quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Verdadeiro espírito de Natal


Não posso deixar de publicar este pedido que acabei de receber. Reflecte o espírito natalício que subscrevo. É preciso ter coragem para renunciar assim ao materialismo e assumi-lo perante família e amigos e vizinhos. A Leonor ainda é pequenina, tem só 4 anos, mas EU SEI, já vi, que ela também percebe e aceita isto com um grande sorriso. Bravo!!!


"Amigas, Vizinhas, e família
Antes de mais votos de excelente Natal!
Pois cá venho eu falar-vos de um tema que me incomoda e como já sabem que sou assim …. avanço com a minha já tão conhecida frontalidade:
Este ano, gostaria de partilhar convosco o seguinte:
1. A Leonor tem milhões de brinquedos
2. Neste altura do ano, vai receber outros tantos (avós, e família directa, empresa)
3. Não aprecio mesmo nada o momento de abertura compulsiva dos mesmos na noite em que é suposto estarmos com miminhos e muitos!
Pelo que, espero que não se sintam incomodados com a minha decisão mas peço-vos para NÃO comprarem prenda de natal para ela. Não deverá ser uma obrigação pelo que fica aqui o meu pedido…. A minha filha também agradece, pois é uma forma de educação. Ter menos, para SER mais…
O Natal não é isso, e a vida não está para isso.
Em vez disso (e caso pretendam) agradeço que canalizem a quantia que iam gastar com ela em algo que possa ajudar as crianças que de facto necessitam. Ou não, cada um sabe da sua vida.
No que me diz respeito, vou agarrar numa determinada quantia e vou distribuir pelas associações que conheço, com alimentos e outros bens de 1ª necessidade. Faço-o sempre, mas agora farei talvez com outro maior cuidado.
Todos os anos há uma escolha em minha casa, de dezenas de brinquedos com que não se chegou a brincar… e não é justo.
Como decerto entenderam, cada um fará o que melhor decidir, mas no meu caso e olhando para todos vós (felizmente) não vejo necessidade deste consumo e não me parece que as vossas crianças fiquem mais felizes com o presente residual que se oferece no Natal. Nem a minha criança.
Nos aniversários das mesmas, aí sim (na minha perspectiva) deve ser o momento das crianças.
Um beijinhos para todos e se quiserem apareçam para beber uma taça de vinho, champagne ou água simplesmente! Serão muito bem-vindos, mas sem presentes ! Isso sim ela vai adorar e nós também. Fico à vossa espera!"

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Aceitação

Integrei há uma semana uma nova equipa de trabalho. São pessoas que já conhecia e os projectos também não me são estranhos. De resto, desde Fevereiro último, tudo na minha vida têm sido mudanças e adaptações. Isto implica que nos apresentemos sempre como uma página em branco. Sucedem-se as apresentações, há sempre algum rosto no qual nunca reparámos ou que estamos a ver efectivamente pela primeira vez; e há reencontros, muitos, porque este mundinho é mesmo muito pequeno. E, como vamos amadurecendo e adquirindo experiência e conhecimento, também para os que já nos conhecem, fazemos parte de um outro contexto, de uma nova realidade. Há, no entanto, um pormenor comum, o de desejarmos ser aceites.
Curioso é que o tentamos pela via pessoal, procuramos encontrar nas conversas que vamos gerando ou em que nos vamos infiltrando, pontos em comum, algo que nos ligue e naturalmente nos aproxime, das nossas vidas privadas: falamos das primeiras vezes dos nossos filhos bebés, preocupamo-nos ou não tanto com a gripe A, descrevemos viagens e desabafamos o desejo de voltar a ter férias, partilhamos o que vai ser o jantar hoje e como o confeccionamos, confessamos que gostávamos de ter um cão, mas que é um desejo egoísta porque vivemos num apartamento… Enfim, uma panóplia infindável de hábitos e opiniões que nos aproximam numa relação que extravasa o banal, porque realmente nos importam estas conversas, e fica ali numa zona cinzenta, porque também ainda não atingimos aquele ponto de intimidade que nos leva de colegas a amigos.
Mais curioso ainda é que indubitavelmente, existe um dado comum a todos nós que é o trabalho, os projectos, a nova equipa, os recém chegados chefes e dedicamos-lhe apenas cerca de 20% destes momentos de conversa que vamos tendo ao longo de todo o dia. A aceitação pessoal toma assim as rédeas e é protagonista, em detrimento da aceitação profissional.
Sou muito ingénua, mas será porque aqui o nosso real interesse é competir, ter as melhores ideias sem as divulgar com receio de no-las roubarem? Fechamo-las a 7 chaves até termos abertura para as revelarmos, em segurança, ou quando entendemos ser oportunos. O momento certo no lugar certo pode transformar qualquer um de nós, simples operacionais, num ”cérebro” e ganhar a tão desejada aceitação. Esta aceitação, profissional, a este nível, não a conseguimos obter de todos. É pena, porque a competência e a eficiência deveriam ser, por si só e pelo que lhes é inerente, o principal motivo de aceitação neste mundo tão “cão”. Há posturas e atitudes que não entendo. Eu quero participar, ter a coragem de dizer talvez o que nem faça sentido ou o que seja irrelevante, mas efectivamente partilhar porque o meu entendimento é que posso contribuir para um objectivo comum. Não é preciso brilhar, não precisamos do palco, apenas ter a oportunidade de nos fazermos ouvir… ou não será esta uma forma generosa de nos sentirmos aceites?

Expectativas...



Aqui está mais uma reflexão, não minha, mas que alguém me deu como resposta neste contexto:

Ela - "A tua filha tem boas notas ?"
Eu - "Eh! Mais ou menos, teve 2 testes de 50 e tal %, um de 89% e os outros são todos de 70 e tal..."
Ela - "Ah, então ?! São notas boas, porque falas assim, meio desiludida ?"
Eu - "Porque sei que se ela trabalhasse mais, se fosse menos preguiçosa, as notas seriam muito melhores! Distrai-se com muitas coisas."
Ela - "Já pensaste que ela pode ser mais feliz assim ?!"

"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades.Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas.Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos.Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar.Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição. Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito.É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho. Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a tomar Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos.Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.
Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"

De João Pereira Coutinho

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Choque












a minha pequenina cresceu…
ainda vejo aquela boneca que foi à escola a primeira vez…
o seu coração despertou…
a menina ficou mulher…
já sabia mas não via assim…
memórias e lembranças levam-me até bem lá atrás no tempo…
mais uma etapa, mais um começo…
anseio por tudo saber…
quero respeitar, acima de tudo…
resta-me estar por aqui…
não sei bem de que forma…
o momento, ao saber, que me chocou…
foi o que tanto me emocionou…
não poder dar aquele abraço...
saber que o seu coração despertou…

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A call to bring the world together…

Não posso deixar de publicar este apelo aqui. Para já, em inglês, vou depois tentar traduzir. O link está aqui ao lado, que designei como "Das mais nobres qualidades" para consulta...

"The principle of compassion lies at the heart of all religious, ethical and spiritual traditions, calling us always to treat all others as we wish to be treated ourselves. Compassion impels us to work tirelessly to alleviate the suffering of our fellow creatures, to dethrone ourselves from the centre of our world and put another there, and to honour the inviolable sanctity of every single human being, treating everybody, without exception, with absolute justice, equity and respect.
It is also necessary in both public and private life to refrain consistently and empathically from inflicting pain. To act or speak violently out of spite, chauvinism, or self-interest, to impoverish, exploit or deny basic rights to anybody, and to incite hatred by denigrating others—even our enemies—is a denial of our common humanity. We acknowledge that we have failed to live compassionately and that some have even increased the sum of human misery in the name of religion.
We therefore call upon all men and women ~ to restore compassion to the centre of morality and religion ~ to return to the ancient principle that any interpretation of scripture that breeds violence, hatred or disdain is illegitimate ~ to ensure that youth are given accurate and respectful information about other traditions, religions and cultures ~ to encourage a positive appreciation of cultural and religious diversity ~ to cultivate an informed empathy with the suffering of all human beings—even those regarded as enemies.
We urgently need to make compassion a clear, luminous and dynamic force in our polarized world. Rooted in a principled determination to transcend selfishness, compassion can break down political, dogmatic, ideological and religious boundaries. Born of our deep interdependence, compassion is essential to human relationships and to a fulfilled humanity. It is the path to enlightenment, and indispensible to the creation of a just economy and a peaceful global community."

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A consciência é o antídoto para a imbecilidade

A propósito do post de ontem, tenho que publicar aqui este texto, válido para as crianças adolescentes e para os crescidos também:

“Sabes qual é a única obrigação que temos nesta vida? Pois é a de não sermos imbecis. A palavra «imbecil» é mais densa do que parece, não duvides. Vem do latim baculus, que significa «bastão»: o imbecil é o que precisa de um bastão ou bengala para andar. Que não se zanguem connosco os coxos nem os velhos, pois a bengala a que nos referimos não é a que muito legitimamente se usa para ajudar a sustentar-se e a andar um corpo enfraquecido por algum acidente ou pela idade. O imbecil pode ser tão ágil quanto se queira e dar saltos como uma gazela olímpica, não é disso que se trata. Se o imbecil coxeia não é dos pés, mas do espírito: é o seu espírito que é enfermiço e manco, embora o seu corpo possa dar cambalhotas de primeira. Há imbecis de diversos modelos, à escolha:
a) O que acredita que não quer nada, o que diz que para ele é tudo igual, o que vive num perpétuo bocejo ou numa sesta permanente, mesmo que tenha os olhos abertos e não ressone.
b) O que acredita que quer tudo, a primeira coisa que lhe aparece e o contrário do que lhe aparece: ir-se embora e ficar, dançar e estar sentado, mascar dentes de alho e dar beijinhos sublimes, tudo ao mesmo tempo.
c) O que não sabe o que quer nem se dá ao trabalho de o averiguar. Imita os quereres dos seus vizinhos ou contraria-os porque sim, tudo o que faz é ditado pela opinião maioritária daqueles que o rodeiam: é conformista sem reflexão ou revoltado sem causa.
d) O que sabe que quer e sabe o que quer e, mais ou menos, sabe porque é que o quer. Mas que pouco, com medo ou sem força. Acaba sempre por fazer, bem vistas as coisas, o que não quer, deixando o que quer para amanhã, pois talvez amanhã esteja mais bem-disposto.
e) O que quer com força e ferocidade, em estilo bárbaro, mas se enganou a si próprio acerca do que é a realidade; despista-se em grande e acaba por confundir a vida boa com aquilo que o há-de tornar pó.
Todos estes tipos de imbecilidade precisam de bengala, ou seja, precisam de se apoiar em coisas de fora, alheias, que nada têm que ver com a liberdade e reflexão pessoais.O contrário de se ser moralmente imbecil é ter-se consciência.Em que consiste essa consciência, que nos curará da imbecilidade moral? Fundamentalmente nos traços seguintes:
a) Saber que nem tudo vem a dar no mesmo porque queremos realmente viver e, além disso, viver bem, humanamente bem.
b) Estarmos dispostos a prestar atenção para vermos se aquilo que fazemos corresponde ou não ao que deveras queremos.
c) À base de prática, irmos desenvolvendo o bom gosto moral, de tal modo que haja certas coisas que nos repugne espontaneamente fazer (por exemplo, termos «nojo» de mentir como temos em geral nojo de mijar na terrina da sopa em que vamos comer a seguir…)
d) Renunciarmos a procurar argumentos que dissimulem o facto de sermos livres e portanto razoavelmente responsáveis pelas consequências dos nossos actos.

” F. SAVATER, Ética para um jovem"

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Crianças adolescentes

Desde a semana passada que o meu pensamento me leva frequentemente à reunião em que participei, do Conselho de Turma da turma da Maria, na qualidade de Representante dos Encarregados de Educação. Receio ser injusta na impressão geral com que fiquei, mas parece-me efectivamente que apenas se cumpriu um pró-forma. Admiro a Directora de Turma que provou, ao longo destes 3 anos, ser uma verdadeira educadora, com experiência e visão, sempre muito objectiva e imparcial nas suas apreciações. Mais uma vez o foi e até manifestou alguma preocupação ao escutar a voz dos alunos (a Delegada de Turma, também presente, levou uma lista de “recados”) já que existe um problema identificado que acaba por caracterizar a turma. Há um pequeno grupo de “desordeiros” que coloca a turma no top do ranking do mau comportamento naquela escola.
Estas crianças, assim se devem chamar, que até reconhecem as suas atitudes menos próprias e sabem o que fazer para mudar, levam a cabo apenas metade do trabalho: registam os erros e apresentam as intenções de correcção, infelizmente, apenas as intenções, porque tudo se repete. No meu 7º ano, lembro-me também de fazer parte de uma turma em que um grupo de 5 ou 6 fazia a vida negra aos professores, incendiando caixotes do lixo, partindo as janelas para sair para o recreio, faltando às aulas e/ou indo frequentemente para a rua, enfim, até me lembro do constrangimento que senti quando, por causa daquele bando, tivemos uma falta colectiva. Nunca tal! Este parêntesis serve para concluir que não são os dias de hoje, em que tudo é facilitado a estas crianças adolescentes, em que lhes é dado acesso a tudo e mais alguma coisa e, pobrezinhos, para não causar qualquer tipo de trauma a estas cabecinhas, homens de amanhã, deixamo-los livres e confiamos neles ou tapamos intencionalmente os olhos. Mas sempre assim foi, sempre houveram “maus da fita” ou até outro tipo de perturbadores. Quem não teve na turma um cromo ou uma miúda que trocava de namorado todas as semanas ou ainda a que se vestia estranhamente todo de preto ou a parola da aldeia das redondezas.
Esta é uma turma heterogénea. Na escola, tal como em qualquer local de trabalho, confrontamo-nos com colegas diferentes, mais ou menos competentes, responsáveis ou negligentes, empenhados ou desmotivados. Temos que preparar esta gente para saber lidar com a diferença, é fundamental falar-lhes de bom senso, de equilíbrio, de razoabilidade, da valorização e da penalização, do que leva a um ou a outro caminho, de ensiná-los a usar a sua condição de inteligentes para um bem comum. O trabalho a fazer é agora, mas confesso, não sei se confio no grupo de professores que trabalham esta turma e outros grupos outras. No fundo, também não resta alternativa: um diz frequentemente aos alunos que não gosta de ser professor e que já devia estar reformado; outra permanentemente faz troça dos miúdos, desrespeitando-os; outra fala-lhes mal da colega, também professora deles; vi nitidamente uma mudança de atitude face à abordagem de uma aluna, quando percebida a minha presença; a própria reunião foi “a despachar”, quando, a meu ver há assuntos verdadeiramente importantes a tratar e rotas a traçar, estratégias a implementar.
Cometemos, nós, adultos, um erro crasso, que é substimar estas pessoas, estes adolescentes que pouco têm de inocência, mas muito de esperteza. E, claro que entendem o que fazem, óbvio que têm noções claríssimas de justiça, sabem muitíssimo bem distinguir o bem do mal. E, como herança de crianças, ninguém como elas tem a sabedoria de dispor de todos os meios ao alcance para atingir objectivos, para conseguirem o que querem. São persistentes e nós não fazemos mais do que ceder. É um cenário ambíguo, este, por um lado devemos tratá-los como crescidos, por outro, temos que utilizar a autoridade para dizer-lhes que ainda não são tão crescidos assim. Uma coisa é certa: ainda que eles nos ouçam dizer como deve ser, só vão mesmo fazer como nós fazemos. E nenhum destes crescidos, supostamente educadores (pais e professores) dá o exemplo!

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Intensa paixão

Senti uma paixão desmesurada por uma mulher. Cautelosa no início, tentei perceber que terreno estaria a pisar. Mas foi inevitável, não foi um amor à primeira vista, mas um sentimento que rapidamente cresceu em força e intensidade. Daqueles que até desgasta, que não nos sai da cabeça, que causa aquela ansiedade que nos faz olhar p’ró relógio p’ra saber se são horas já de ela chegar, que nos ocupa o pensamento noite fora e não trava o impulso de um sms antes de dormir.
A graciosidade na postura, as palavras que, de impulso, lhe ouvimos, com graça inigualável, tamanha genuinidade, atracção inevitável. O trabalho é a sua fonte de vida: ultrapassar o nível máximo de responsabilidade e competência é um desafio que encara espontaneamente como obrigatória. E nunca conheci ninguém tão perspicaz e atento.
Quando, por longos momentos não esteve, instalou-se o vazio, uma saudade daquelas que doía, a tristeza da incerteza, a raiva por quem decide e dispõe. Longe da vista, longe do coração. Melhor não falar, não promover o encontro ou o telefonema, deixá-la lá, no canto dela, sozinha. Percebi isto, quando compreendi que nada, mas mesmo nada a desviava daquele buraco negro, porque de lá não queria sair a não ser por um único motivo. O mundo cá fora continuava a girar, muito deste mundo, a girar em redor dela. E conseguiu, quem ela queria que viesse salvá-la, realmente apareceu. Então, voltou, ela voltou…
Senti uma paixão louca não correspondida. Senti uma paixão louca a aquietar-se, a suavizar-se, provavelmente uma relação a amadurecer. Ou então entendi o retorno de outra forma. Tenho vindo a constatar que esta mulher forte é também menina frágil, com uma história de vida dura que lhe vestiu esta armadura e, de arma em punho se defende de qualquer ameaça à sua vulnerabilidade. Essa menina dificilmente se deixa mostrar.
Já me deu muito, esta mulher. Já me fez sentir muito, bom ou menos bom, mas sempre muito intenso. A brincar é intensa, o olhar é intenso, a conversa é intensa, o trabalho excede até o intenso.
Não entendo ainda algumas coisas, por isso continua a ser estimulante. Ela continua por aqui… E também continua a pairar muita cor, vivacidade e luminosidade…

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Efeitos de mim…

É curioso que eu tenha decidido iniciar este blogue como terapia. Ressalvo, eu fui obrigada, ainda que não coagida, a criar este blogue. Decidi ir em frente e os efeitos em mim são surpreendentes. De tal forma que já nem sei se tenho que arranjar uma terapia para esta terapia, para me atenuar este vício, que vem do prazer de ler o meu pensamento. Há um desejo constante, uma vontade permanente, de deitar para fora, de expressar, de arrumar ideias, de tirar conclusões, de comentar, de criticar, de desabafar…. Isto até pode soar a egocentrismo excêntrico, mas o que é certo é que este blogue é mesmo para mim, é o meu espelho.
Vou percebendo, no entanto, que as evasões e os encontros em mim, que partilho, sem querer, com quem não sei, tornam-se reflexão e interesse desses que conheço ou não. Seja de uma forma positiva ou negativa, vou tomando consciência que o que escrevo produz efeitos, não só em mim: mexe, agita, perturba, desconcerta, inquieta; tranquiliza, acalma, aquieta, dispõe bem.
Posso registar alguns retornos:
- já houve quem me pedisse para apagar um desabafo, pelo efeito perturbador que lhe causara, quanto a mim uma postura atrevida e que me colocou nesta posição, que odeio, de ser contrariada. Acedi, por respeito à pessoa daquele momento, não à pessoa de hoje, que constato acentuou a sua característica menos favorável: a cobardia. Deixa-me um pouco frustrada que o efeito não tenha sido outro, pretensão talvez, mas preferia ter visto esta pessoa crescer em integridade e maturidade;
- sei de uma pessoa que acede diariamente a este blogue, à procura de novidades, lê-me porque se revê no que sinto. Não conheço, mas se faz esta pessoa sentir-se bem, excelente. Deixo-lhe aqui o desafio para me dar um pouco de si também. Vá lá, não é só receber, comenta, deixa o teu pensamento fluir e partilha-o;
- há uma amiga que considero irmã, que vem cá espreitar com regularidade. Já lhe despoletei surpresa, porque afinal não tinha percebido – os irmãos são assim, por vezes julgam que estão sempre por dentro de tudo em nós, mas depois há mais qualquer coisa, em que não reparámos. Talvez eu, em relação a ela, também seja assim. Mas o seu discurso é sempre tão racional, tão ponderado, com os factos, ideias e sensações tão bem encadeados quando se expressa, que parece terem sido pré-cozinhados. Cito um paradoxo: “A melhor improvisação é aquela que melhor é preparada.” Até os seus estados de nervos são calmos e já assisti a alguns, bem dramáticos! Sinto que entendo muito bem esta minha amiga: ainda ontem ela reagiu a um post com um simples “não consigo comentar!” e não precisou dizer mais nada. O que mais recebo dela é conforto e calma e a certeza de que está lá p’ra mim (e ela sabe que é recíproco);
- parece que a minha veia de escrita lúdica também está a produzir frutos. Se repararam, foi-me pedida autorização para publicar um dos meus posts noutro blogue. E claro que sim, lá vai um pouco mais de Lixa por esse mundo fora!;
Por isso, teu silêncio em mim, brindo novamente a ti!!! És o princípio! Obrigada também a ti, em nome de todos os que por aqui passam.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

“Memórias de um passeio a Portimão” ou “Viagens na minha mota”

Insistem em que seja eu a escrever sobre mais um fim de semana motard. Mas esquecem-se que sou completamente leiga nestas lides e que a minha percepção vai direitinha para o convívio envolvente. Vou, porém, tentar ser um pouco factual. Ora cá vai:
Ah e tal, Superbike em Portimão no fim de semana de 24 e 25 de Outubro…ok, ‘bora aí angariar people e vamos dar uso às motas e curtir as estradas e paisagens de Portugal. Para começar, os saloios que moram ali a 2 passos de Setúbal, o último ponto de encontro, chegaram super atrasados. De tal forma que só 1 hora depois do combinado, se juntaram à malta à entrada do barco rumo a Tróia. Tudo animado, quando se vai para a festa! O tempo ajudou, até podia ter estado um pouco menos de calor, já que alguns iam preparados para a intempérie. A travessia fez-se num ápice, julgo que ninguém sequer procurou golfinhos, tal era o desejo de conversa e de afinar o trajecto e, claro está, de voltar para as motas. O objectivo era agora Porto Covo para apreciar algumas iguarias da região, ao almoço.
A minha veia sensível não pode deixar de se pronunciar sobre a beleza de toda a paisagem que nos é permitido apreciar quando se viaja “à pendura”. Assim, descontraidamente, ao ar livre (diferente de uma viagem de automóvel) há uma série de sensações que, de outra forma, não se experimentam: quem não sente o frio, depois mais calor, a seguir mais vento… e os cheiros? Ora a eucalipto, ora a pinheiro, e ali a chegar a Porto Corvo, incrível toda aquela frescura do cheiro a mar, de tal forma envolvente que já tínhamos, então, o apetite aberto. Pois claro está, como não podia deixar de ser, sentámo-nos num restaurante típico – numa pizzaria – podem acreditar nisto?! Almoço em Porto Covo para comer pizzas, massas e bruschetas. Só mesmo a saloiada da capital!
De papo cheio, a partir daqui houve alguma dispersão: uns, aventureiros, quiseram continuar por caminhos de curvas e montes; outros, com compromissos familiares, seguiram por outras bandas; outros ainda, ansiosos por chegar ao autódromo, para levantar os tão desejados bilhetes SBK que podiam até valer um motão e outras coisas mais, por sorteio no final do evento (que nenhum de nós ganhou, não sei como!). Eu, que não estou nada habituada a estas lides, como já tinha dito, apreciei, radiante, a chegada ao autódromo. Para começar, a estrada que nos leva até lá: motas p’ra lá e p’ra cá, de todas as marcas e modelos, tons e sons, mas em comum todas “a abrir”, “a esgalhar”, “prego a fundo”, enfim, a explorar as potencialidades deste nobre meio de transporte. Á chegada ao recinto: motards estilosos e pirosos; exibicionistas e discretos; motoqueiros e pastilheiros de 2 rodas; velhos e novos; motardas armadas em boas e outras mesmo boazonas; penduras de biquini ou de polar, conforme o site de previsão do tempo que consultaram na véspera.
Mas estava cá um calor! Água primeiro, muita água, porque destilávamos! Depois, t-shirts novas, temáticas, compradas nas barraquinhas dos espanhóis, sin tarjeta, só cash, o que não facilita nada porque nos refreia a vontade de comprar (talvez até seja melhor!). Aproveitando a concentração de pessoal e, no Algarve, sabemos que depois do Verão, é o deserto, a abordagem de algumas pessoas a promover locais de lazer e a distribuir publicidade era mato. Ainda pensámos em marcar jantar surpresa num restaurante de striptease… calma, meninas! Despiam-se mulheres, mas também homens, só por isso equacionámos, mas, não querendo ferir susceptibilidades, optámos por não avançar (até que o panfleto tinha bom aspecto! Talvez numa próxima…).
Abalámos rapidamente para apanharmos as chaves dos apartamentos que até foram uma agradável surpresa, pelo menos o T1 onde fiquei, apesar de ter dormido na sala. Vista para o mar, o pôr e o nascer do sol e, em baixo, uma esplanada bem simpática para a happy hour antes do banho e do jantar. Claro está, desta feita, as saloias da margem sul, fizeram esperar a malta a aguar por um peixinho grelhado, porque resolveram montar um cabeleireiro em casa (que falta de sentido prático, viajar de mota, que até tem uma bagageira avantajada, levar pijama e ferros de engomar cabelos!).
A pé à procura de um restaurante que nos parecesse digno da nossa presença, fomos até ao outro extremo de Armação de Pêra. Confesso que fiquei surpreendida com as mudanças desta terra desde que há uns 3 anos aqui estive. Apesar de desertas, as ruas e praças à beira mar proporcionam um agradável passeio por entre espaços bem melhorados e exclusivos para peões. O caminho de regresso aos apartamentos serviu para “esmoer” o belíssimo manjar, entre um jogo de matrecos num salão de jogos sem viv’alma e uma voltinha de mota naquelas máquinas simuladoras que tentam aproximar-se da realidade (Manx TT), para matar saudades.
Restabelecidos do cansaço do dia anterior, e energias renovadas com um super pequeno almoço (eu, pelo menos, comi por 2!; ninguém arranjou farnel para levar e também ninguém ia com vontade de passar horas em filas para comprar sandochas e imperiais) eis que chega o grande momento Superbike. Lá montámos nós as máquinas e depois de estacionadas as meninas, muito direitinhas e certinhas, à sombrinha, dirigimo-nos para a bancada Lagos que trocámos pela da TMN por nos parecer melhor localizada (tal era o povo, até deu para escolher os assentos!). Estávamos, então, prontos para assistir à consagração do campeão do mundo desta prova. Torcíamos por Ben Spies que baptizei, porque não percebo mesmo nada disto, de Ben Spixa. Parece que o moço ganhou isto, representando a Yamaha, ainda por cima novo nestas andanças e lá levou ele o título p’rás Américas, batendo o da Ducati, Noriyuki Haga (muito mais fácil de pronunciar, este!). Em jeito de balanço, palmas para a sra. Yamaha que ganhou 3 mundiais: SuperBike - Ben Spies; MotoGP - Valentino Rossi e Supersport - Cal Crutchlow.
Depois, estivemos a torcer pelo Miguel Praia na Supersport, ou não fôssemos tugas fiéis ao que de melhor temos. Só que aqui, o rapaz lá conseguiu terminar em 10º lugar mas, ainda assim, a equipa que representava, a Parkalgar Honda acabou vice-campeã desta prova, tendo o Eugene Laverty, outro elemento desta equipa, ganho esta corrida.
Bem, lá consegui reproduzir aqui alguns factos, mas digo-vos, a malta assistiu a 2 corridinhas, viu 2 gajos a cair e enrolarem-se lá na gravilha fora de pista, mas nada de extraordinariamente emocionante. Nem gajas daquelas com calçonetes a verem-se as bordinhas e tops atrevidos havia, para regalar o olho dos homens do grupo! Apesar de até ter gostado, porque nunca tinha assistido a nada do género, o calor era insuportável, a fome apertava, já ninguém queria saber de corrida nenhuma e decidimos visitar o genuíno franguinho da Guia. Não antes, porém, de usufruirmos da gentileza de um espanhuel que nos tirou umas fotos de souvenir: “patataaaaaaaaaaaaaa!!!!”.
Parecíamos a Cª Batatoon, de narizes vermelhos, e… exaustos! Morfámos que nem uns doidos e só queríamos que, por toque de magia, por um estalar de dedos, a nossa caminha nos aparecesse à frente. Apesar do prazer da permanente presença da sangria nas refeições, de umas swingadas (de motas, claro!) e do salutar convívio, viemos a abrir, desejosos de chegar a casa. Montámos ainda de dia, e desmontámos já noite cerrada porque a hora mudara nessa madrugada. Vínhamos, agora, da festa, completamente esgotados, mas com mais esta história para contar!

por Lorvão, Carla – Chica Motera
com a colaboração de Ben Spixa

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Agora que vais...

Estava ali de volta dos tachos, quando a minha mente foi assolada por uma revista da minha vida de 8 anos em comunhão contigo. É impressionante como só neste momento, em que realizo efectivamente que vou ficar privada da tua companhia diária, essa realidade me é mostrada como tal, ainda que há já imenso tempo sei que vais.
Tantos momentos acordam da minha memória que nem sei já contextualizá-los ou datá-los. De colega a chefe, de chefe a colega, amigas, penso que a partir de determinada altura da primeira fase, fomos sempre. Algumas vezes mais ouvintes, outras mais íntimas, outras ainda mais disponíveis. Conheces-me bem, em tantas frentes, já pensaste ? Ouves-me diariamente a perguntar-te coisas: “como se faz isto ? como hei-de fazer aquilo ? onde encontro isto ou como pesquiso aquilo? questões às quais já me respondeste dezenas de vezes e, mais uma vez, pacientemente, me explicas tudo como se fosse a primeira vez; sentas-te ao meu lado para eu te contar o meu fim de semana; vamos tomar café p’ra me contares porque tens o coração a bater forte ou as mãos a tremer; avaliaste o meu desempenho no trabalho o que significa que tiveste que pensar em mim muito a sério; choraste timidamente ao pé de mim, em stress; escondeste o que não podias contar por imposição profissional – compreendi sempre, por incrível que pareça, e respeitei; partilhaste toda a tua vida comigo e eu a minha contigo. Somos alegres, brincalhonas, desbocadas e cuscas, somos companheiras e atrevidas, tu és cromita. Como eu admiro esse teu desejo de conhecimento e essa proactividade na permanente procura dessa satisfação, essa atitude de autodidacta que te faz ir à fonte e beberes de tudo até ficares embriagada de know-how (há aqui um 2º sentido nesta coisa dos copos!). Por vezes penso que és uma pessoa com capacidades subaproveitadas. Não era aqui que devias estar, não é este o teu lugar, mas por outro lado, ainda bem que por aqui andaste, porque tropecei em ti. Por tudo isto e muito mais, obrigada. Agora vem a parte mais difícil, que é manter um pouco disto que tivémos e alcancámos daqui em diante. Estes meus olhos que neste momento rasam e não conseguem conter uma lágrima bem gorda representam orgulho em ti, que vais seguir o caminho que escolheste. Boa sorte, do fundo do coração! E tanto fica por dizer...

(estas galinhas, podíamos ser nós... achei-lhes graça!)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Meia hora de outras vidas

Este fim de semana o meu coração começou a palpitar novamente. Comecei outra vez a senti-lo querer sair do peito com toda a força. Sim, alguns momentos de stress. Uma proposta para decidir aceitar ou não. Tenho que pensar…
Vivi, entretanto, e no meio de tanta agitação, meia hora de silêncio, que me foi permitida pela sesta do meu Joãozinho. Enquanto esperei que acordasse, já que dormia dentro do carro, mantive-me, não introspectiva, mas observadora do mundo envolvente. É incrível a diversidade de vidas que nos é permitido espreitar: ouvi uns gritos estridentes de palavras imperceptíveis desvendados entretanto pela proximidade da personagem que os protagonizava – um chinês maluco que esbracejava e apontava o dedo para o céu, com tal veemência, cuspindo palavras que ninguém entende, pois pudera, em chinês! Depois, vi passar 3 homens, ou melhor, 2 homens e 1 menino – os 3 de calcinha de pinça, camisa e gravata (sim, o menino também!); os 3 com as pastas pela mão (e sim, o menino também!) – logo me apercebi que se tratavam desses evangelizadores não sei de que igreja, e confirmei-o pela tentativa de abordagem a uma transeunte, que logo os ignorou. Questionei-me o que faria aquele menino ali, se a convicção dele seria aquela, se não preferiria estar com outros amigos a andar de bicicleta ou a jogar playstation. Se lhe perguntasse agora, seguramente responderia que a missão dele era pregar aquela mensagem; mas seguramente daqui a uns anos, a resposta será diferente. Seria interessante conhecê-la então e perceber os efeitos desta influência neste, hoje, menino.
Embeveci-me com a chegada a casa de uma mãe acabada de ser. O carro parou, a mãe vinha à frente, e com dificuldade tentava sair, sozinha. Claro, tanto o pai como os avós se viraram para o ovo com o recém-chegado bebé, ignorando inconscientemente a necessidade de ajuda da pálida mãe ainda dorida, mas cujo sorriso se abriu ao espreitar o seu bebé como que a dizer-lhe: “bem-vindo a casa!”.
De resto, talvez o habitual num bairro típico de Lisboa: a velhota que não sai da janela toda a tarde, provavelmente a absorver todos estes e mais episódios da sua rua: outras velhotas a passar com sacos de compras não identificados (claro que vêm do Lidl, os sacos custam cêntimos e há que poupar, em consciência não o ambiente, mas a carteira); o carro do preto, de vidros abertos, a espalhar kizomba com o volume no máximo; o carro do branco com o terço verde fluorescente pendurado no retrovisor a obrigar ouvir acid em altos berros; o carro de um senhor doutor, alta gama, que entra na garagem de um tal condomínio quase de luxo, que parece não caber aqui, nesta rua popular.
Meia hora fora de mim, meia hora de tantas vidas.