segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Expectativas...



Aqui está mais uma reflexão, não minha, mas que alguém me deu como resposta neste contexto:

Ela - "A tua filha tem boas notas ?"
Eu - "Eh! Mais ou menos, teve 2 testes de 50 e tal %, um de 89% e os outros são todos de 70 e tal..."
Ela - "Ah, então ?! São notas boas, porque falas assim, meio desiludida ?"
Eu - "Porque sei que se ela trabalhasse mais, se fosse menos preguiçosa, as notas seriam muito melhores! Distrai-se com muitas coisas."
Ela - "Já pensaste que ela pode ser mais feliz assim ?!"

"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades.Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas.Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos.Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar.Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição. Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito.É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho. Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a tomar Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos.Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.
Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"

De João Pereira Coutinho

3 comentários:

  1. se fosse gaja era dona do mundo.

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  2. Adorei. Faz-nos pensar. Mas na sociedade em que vivemos é difícil ser feliz afastando-nos totalmente daquilo que é a felicidade de acordo com a sociedade... Já está... Resumindo e baralhando: era bom que tudo fosse mais facil.

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  3. Curioso... mas ineficaz. As pessoas querem fazer parte, integrar-se e por isso não resistem... Não resistem à TV com play station no quarto aos 4 anos; não resistem às 50 prendas (abusivas) no natal para criança adrenalizada e perdida nas emoções dos pais... ; não resistem a comparar e cobrar a vida que se lhes oferece perante o sacrificio das suas proprias vidas; e sim, de facto todos hoje têm de ser bons, com notas excelentes, mesmo que não saibam o que são (como ser autónomo) e restem baralhados perante as frustações compulsivas dos seus pais...

    Como mãe, luto todos os dias para agir de forma diferente, mas nem sempre consigo. Felicito-me por tentar. Ás vezes...

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