segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Meia hora de outras vidas

Este fim de semana o meu coração começou a palpitar novamente. Comecei outra vez a senti-lo querer sair do peito com toda a força. Sim, alguns momentos de stress. Uma proposta para decidir aceitar ou não. Tenho que pensar…
Vivi, entretanto, e no meio de tanta agitação, meia hora de silêncio, que me foi permitida pela sesta do meu Joãozinho. Enquanto esperei que acordasse, já que dormia dentro do carro, mantive-me, não introspectiva, mas observadora do mundo envolvente. É incrível a diversidade de vidas que nos é permitido espreitar: ouvi uns gritos estridentes de palavras imperceptíveis desvendados entretanto pela proximidade da personagem que os protagonizava – um chinês maluco que esbracejava e apontava o dedo para o céu, com tal veemência, cuspindo palavras que ninguém entende, pois pudera, em chinês! Depois, vi passar 3 homens, ou melhor, 2 homens e 1 menino – os 3 de calcinha de pinça, camisa e gravata (sim, o menino também!); os 3 com as pastas pela mão (e sim, o menino também!) – logo me apercebi que se tratavam desses evangelizadores não sei de que igreja, e confirmei-o pela tentativa de abordagem a uma transeunte, que logo os ignorou. Questionei-me o que faria aquele menino ali, se a convicção dele seria aquela, se não preferiria estar com outros amigos a andar de bicicleta ou a jogar playstation. Se lhe perguntasse agora, seguramente responderia que a missão dele era pregar aquela mensagem; mas seguramente daqui a uns anos, a resposta será diferente. Seria interessante conhecê-la então e perceber os efeitos desta influência neste, hoje, menino.
Embeveci-me com a chegada a casa de uma mãe acabada de ser. O carro parou, a mãe vinha à frente, e com dificuldade tentava sair, sozinha. Claro, tanto o pai como os avós se viraram para o ovo com o recém-chegado bebé, ignorando inconscientemente a necessidade de ajuda da pálida mãe ainda dorida, mas cujo sorriso se abriu ao espreitar o seu bebé como que a dizer-lhe: “bem-vindo a casa!”.
De resto, talvez o habitual num bairro típico de Lisboa: a velhota que não sai da janela toda a tarde, provavelmente a absorver todos estes e mais episódios da sua rua: outras velhotas a passar com sacos de compras não identificados (claro que vêm do Lidl, os sacos custam cêntimos e há que poupar, em consciência não o ambiente, mas a carteira); o carro do preto, de vidros abertos, a espalhar kizomba com o volume no máximo; o carro do branco com o terço verde fluorescente pendurado no retrovisor a obrigar ouvir acid em altos berros; o carro de um senhor doutor, alta gama, que entra na garagem de um tal condomínio quase de luxo, que parece não caber aqui, nesta rua popular.
Meia hora fora de mim, meia hora de tantas vidas.

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