
Insistem em que seja eu a escrever sobre mais um fim de semana motard. Mas esquecem-se que sou completamente leiga nestas lides e que a minha percepção vai direitinha para o convívio envolvente. Vou, porém, tentar ser um pouco factual. Ora cá vai:
Ah e tal, Superbike em Portimão no fim de semana de 24 e 25 de Outubro…ok, ‘bora aí angariar people e vamos dar uso às motas e curtir as estradas e paisagens de Portugal. Para começar, os saloios que moram ali a 2 passos de Setúbal, o último ponto de encontro, chegaram super atrasados. De tal forma que só 1 hora depois do combinado, se juntaram à malta à entrada do barco rumo a Tróia. Tudo animado, quando se vai para a festa! O tempo ajudou, até podia ter estado um pouco menos de calor, já que alguns iam preparados para a intempérie. A travessia fez-se num ápice, julgo que ninguém sequer procurou golfinhos, tal era o desejo de conversa e de afinar o trajecto e, claro está, de voltar para as motas. O objectivo era agora Porto Covo para apreciar algumas iguarias da região, ao almoço.
A minha veia sensível não pode deixar de se pronunciar sobre a beleza de toda a paisagem que nos é permitido apreciar quando se viaja “à pendura”. Assim, descontraidamente, ao ar livre (diferente de uma viagem de automóvel) há uma série de sensações que, de outra forma, não se experimentam: quem não sente o frio, depois mais calor, a seguir mais vento… e os cheiros? Ora a eucalipto, ora a pinheiro, e ali a chegar a Porto Corvo, incrível toda aquela frescura do cheiro a mar, de tal forma envolvente que já tínhamos, então, o apetite aberto. Pois claro está, como não podia deixar de ser, sentámo-nos num restaurante típico – numa pizzaria – podem acreditar nisto?! Almoço em Porto Covo para comer pizzas, massas e bruschetas. Só mesmo a saloiada da capital!
De papo cheio, a partir daqui houve alguma dispersão: uns, aventureiros, quiseram continuar por caminhos de curvas e montes; outros, com compromissos familiares, seguiram por outras bandas; outros ainda, ansiosos por chegar ao autódromo, para levantar os tão desejados bilhetes SBK que podiam até valer um motão e outras coisas mais, por sorteio no final do evento (que nenhum de nós ganhou, não sei como!). Eu, que não estou nada habituada a estas lides, como já tinha dito, apreciei, radiante, a chegada ao autódromo. Para começar, a estrada que nos leva até lá: motas p’ra lá e p’ra cá, de todas as marcas e modelos, tons e sons, mas em comum todas “a abrir”, “a esgalhar”, “prego a fundo”, enfim, a explorar as potencialidades deste nobre meio de transporte. Á chegada ao recinto: motards estilosos e pirosos; exibicionistas e discretos; motoqueiros e pastilheiros de 2 rodas; velhos e novos; motardas armadas em boas e outras mesmo boazonas; penduras de biquini ou de polar, conforme o site de previsão do tempo que consultaram na véspera.
Mas estava cá um calor! Água primeiro, muita água, porque destilávamos! Depois, t-shirts novas, temáticas, compradas nas barraquinhas dos espanhóis, sin tarjeta, só cash, o que não facilita nada porque nos refreia a vontade de comprar (talvez até seja melhor!). Aproveitando a concentração de pessoal e, no Algarve, sabemos que depois do Verão, é o deserto, a abordagem de algumas pessoas a promover locais de lazer e a distribuir publicidade era mato. Ainda pensámos em marcar jantar surpresa num restaurante de striptease… calma, meninas! Despiam-se mulheres, mas também homens, só por isso equacionámos, mas, não querendo ferir susceptibilidades, optámos por não avançar (até que o panfleto tinha bom aspecto! Talvez numa próxima…).
Abalámos rapidamente para apanharmos as chaves dos apartamentos que até foram uma agradável surpresa, pelo menos o T1 onde fiquei, apesar de ter dormido na sala. Vista para o mar, o pôr e o nascer do sol e, em baixo, uma esplanada bem simpática para a happy hour antes do banho e do jantar. Claro está, desta feita, as saloias da margem sul, fizeram esperar a malta a aguar por um peixinho grelhado, porque resolveram montar um cabeleireiro em casa (que falta de sentido prático, viajar de mota, que até tem uma bagageira avantajada, levar pijama e ferros de engomar cabelos!).
A pé à procura de um restaurante que nos parecesse digno da nossa presença, fomos até ao outro extremo de Armação de Pêra. Confesso que fiquei surpreendida com as mudanças desta terra desde que há uns 3 anos aqui estive. Apesar de desertas, as ruas e praças à beira mar proporcionam um agradável passeio por entre espaços bem melhorados e exclusivos para peões. O caminho de regresso aos apartamentos serviu para “esmoer” o belíssimo manjar, entre um jogo de matrecos num salão de jogos sem viv’alma e uma voltinha de mota naquelas máquinas simuladoras que tentam aproximar-se da realidade (Manx TT), para matar saudades.
Restabelecidos do cansaço do dia anterior, e energias renovadas com um super pequeno almoço (eu, pelo menos, comi por 2!; ninguém arranjou farnel para levar e também ninguém ia com vontade de passar horas em filas para comprar sandochas e imperiais) eis que chega o grande momento Superbike. Lá montámos nós as máquinas e depois de estacionadas as meninas, muito direitinhas e certinhas, à sombrinha, dirigimo-nos para a bancada Lagos que trocámos pela da TMN por nos parecer melhor localizada (tal era o povo, até deu para escolher os assentos!). Estávamos, então, prontos para assistir à consagração do campeão do mundo desta prova. Torcíamos por Ben Spies que baptizei, porque não percebo mesmo nada disto, de Ben Spixa. Parece que o moço ganhou isto, representando a Yamaha, ainda por cima novo nestas andanças e lá levou ele o título p’rás Américas, batendo o da Ducati, Noriyuki Haga (muito mais fácil de pronunciar, este!). Em jeito de balanço, palmas para a sra. Yamaha que ganhou 3 mundiais: SuperBike - Ben Spies; MotoGP - Valentino Rossi e Supersport - Cal Crutchlow.
Depois, estivemos a torcer pelo Miguel Praia na Supersport, ou não fôssemos tugas fiéis ao que de melhor temos. Só que aqui, o rapaz lá conseguiu terminar em 10º lugar mas, ainda assim, a equipa que representava, a Parkalgar Honda acabou vice-campeã desta prova, tendo o Eugene Laverty, outro elemento desta equipa, ganho esta corrida.
Bem, lá consegui reproduzir aqui alguns factos, mas digo-vos, a malta assistiu a 2 corridinhas, viu 2 gajos a cair e enrolarem-se lá na gravilha fora de pista, mas nada de extraordinariamente emocionante. Nem gajas daquelas com calçonetes a verem-se as bordinhas e tops atrevidos havia, para regalar o olho dos homens do grupo! Apesar de até ter gostado, porque nunca tinha assistido a nada do género, o calor era insuportável, a fome apertava, já ninguém queria saber de corrida nenhuma e decidimos visitar o genuíno franguinho da Guia. Não antes, porém, de usufruirmos da gentileza de um espanhuel que nos tirou umas fotos de souvenir: “patataaaaaaaaaaaaaa!!!!”.
Parecíamos a Cª Batatoon, de narizes vermelhos, e… exaustos! Morfámos que nem uns doidos e só queríamos que, por toque de magia, por um estalar de dedos, a nossa caminha nos aparecesse à frente. Apesar do prazer da permanente presença da sangria nas refeições, de umas swingadas (de motas, claro!) e do salutar convívio, viemos a abrir, desejosos de chegar a casa. Montámos ainda de dia, e desmontámos já noite cerrada porque a hora mudara nessa madrugada. Vínhamos, agora, da festa, completamente esgotados, mas com mais esta história para contar!
por Lorvão, Carla – Chica Motera
com a colaboração de Ben Spixa