domingo, 27 de dezembro de 2009

Sonho de Natal


Eu tenho um sonho. Um sonho de um verdadeiro Natal! Lanço o desafio e o compromisso de, no próximo ano, assistir à concretização deste sonho:

"Há renas lá fora, luzes de encantar por todo o lado. O jardim foi invadido pelas estrelas de Natal, todas as "minhas crianças" com os mais lindos e mágicos sorrisos e risos que cantam as canções de Natal mais conhecidas. Estes meninos e meninas estão acompanhadas dos seus pais, que os prepararam para um Natal diferente, para o verdadeiro Natal. Todos juntos, construimos uma grande árvore de Natal, enfeitada com o toque e imaginação de cada criança e ela vai brilhar, tanto que ofuscará todos os corações grandes e pequeninos. Tiramos uma foto, muitas fotos! Os presentes que rodearão esta árvore, foram trazidos pelos meninos e meninas para dar, para dá-los a outros meninos e meninas que não têm um Natal como nós - se calhar não têm família, provavelmente não têm presentes, talvez não tenham amigos, concerteza não sentem o conforto do amor - por isso, vamos todos dar-lhes estas prendas envoltas em papel de luz e brilho infantil. Levamos, também, comidinha bem gostosa, para um lanche de Natal em conjunto: as "minhas" crianças e pais, as "nossas, de ninguém" crianças e quem delas cuida. Vamos levar música e animação e vamos brincar todos. Vamos fazer Natal."

É um sonho que já me parece real. Este Natal será no dia 18 de Dezembro de 2010.

Postal de Natal

- "Mãe, compra-me um postal de Natal!"
- "Ok, mas é para quem ? Para um amigo, amiga, familiar ?!"
- "Para um familiar... Escolhe o que mais gostares!"
Assim fiz. E afinal, o postal era para mim. Dizia no envelope:
"Para a melhor, a maior, a mais boa, a mais maluca, para a Minha Mãe" - claro que, de imediato as lágrimas me envolveram e não li o interior até me sentir minimamente preparada. O conteúdo deixo p'ra mim, gravado no meu coração, que ficou do tamanho do mundo quando li gratidão, amor, humildade, sinceridade e sensibilidade. É isto o melhor de ser Mãe, esta compensação que me mantém no caminho de fazer o meu melhor, dar tudo o que sei como sei, ser eu própria e, sem pudor, mostrar-me assim, eu mesma. A verdade é mesmo o melhor que se pode mostrar aos filhos, ainda que a tendência seja a de os proteger. Mas não os substimo, eles percebem tudo, eles vêem sempre tudo com a mais pura e profunda clareza. Esta mensagem que recebi é também um sinal e um compromisso, também me faz reconhecer falhas que tenho que limar.
No final de uma semana, tão intensa de emoções: por ter recebido o melhor presente de Natal, através da dádiva; algumas revoltas por não conseguir estar com todas as pessoas de quem gosto muito, por identificar a lacuna gritante quando se tenta dignificar uma pessoa, pelo direito que lhe assiste pela condição de ser humano, e de ser tão difícil fazê-lo; recebo o postal de Natal da minha vida, uma lufada de ar fresco. E fez-se magia... a magia de um postal de Natal!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Rapazes Nus a Cantar

Quem disse que eu, que até me considero uma pessoa "open minded", sou desprovida de qualquer preconceito ou tabu? Quem disse que aceito a diferença sem questionar ? Quem disse que não sinto o choque do confronto? Dizia eu, sim. O que é certo é que me senti intimidada e com vergonha.
Fui ao teatro ver uma peça porque o nome era sugestivo: homens, nus num palco, nem sabía a fazerem o quê, a não ser cantar, porque o nome assim o explicita. Não havia qualquer outra expectativa do que... ver pilas ?! o quê ?! comprovar se era mesmo verdade?! descobrir como reagiria ?! era grande a curiosidade, pelo menos. Eis senão quando entram, julgo que 8 homens com as mãos a tapar as ditas, cantando e dançando... até aqui tudo mais ou menos. Quando os rapazes se mostram, ora bem, tossi, olhei para o lado, fingi que nem espreitava para apreciar, ri-me do riso de um grupo de idosas que pensei fossem cair p'ró lado, esforcei-me por manter o olhar na cara dos actores, tentei ao máximo focar-me nas vozes e nas suas habilidades a dançar, torci-me na cadeira vezes sem conta, mudando de posição. Enfim, habituar-me àquele cenário levou algum tempo até me sentir à vontade o suficiente para me focar nas ditas e inevitavelmente compará-las: de cores, formas e tamanhos diferentes, também elas parecem ter a sua própria identidade. Convenhamos: tentem lá imaginar um grupo de moçoilos, até jeitosos (bailarinos, muito trabalho naquele corpinho!), nus, aos saltos, a dançar, a cantar, a suar... Cenário interessante, não acham ? Por vezes ridículo, outras, cómico, outras até sensual.
O objectivo desta peça é chocar, mostrando a pila nas suas diversas facetas, em rábulas de nos fazer torcer de riso. A homossexualidade é protagonista, bem actual (já que até acabou de ser aprovada a lei que permite o casamento homossexual em Portugal). Gabo a coragem destes actores´e a sua irreverência e surpreendo-me a mim mesma, ao reagir de forma completamente inesperada ao confronto.
"Aqui, a nudez não se considera gratuita. Eles tiram as roupas para mostrar de que forma os homens se sentem despidos de cada vez que falam de si próprios. E é disso que se trata: de coisas de homens, que vão do amor e da sexualidade às idas ao ginásio ou à cerimónia da circuncisão."
"Juntos, em palco, não lhes falta entusiasmo. E hão-de cantar e dançar para quem os quiser ir ver: "Vá, venham aplaudir os rapazes que desfilam com mais uma canção, vamos lá despir esse vosso preconceito, neste musical estar sem roupa é respeito", cantam, quase no fim. Afinal, aqui, o público também tem de se despir - não de roupas, mas de inibições." in visao.pt

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Feliz Natal, Dinis!

Não me lembro de ter feito algo assim e é tão enriquecedor e entusiasmante que o meu coração quase explode!!! O Dinis é um menino com uma doença rara, filho de uma colega da prima Anabela, que conhece bem de perto este caso. Fui contagiada por esta prima e pela prima Catarina, que este ano, "embarcaram" num Natal diferente, um Natal que me parece bem mais bonito e grande. Por isso, agradeço-lhes o empurrão, porque compaixão sentimos sempre e vontade de ajudar também, mas iniciativa é mais difícil.

Este registo é, sobretudo, para o João, quando souber ler e entender:

1. Email ao pai do Dinis:

"Bom dia Paulo,

Sou prima da Anabela e tenho sido envolvida na história do Dinis. É extremamente compensador recebermos este grande presente de Natal que é a dádiva. Contribuir para que o Dinis possa usufruir do máximo bem estar e qualidade de vida é de facto o presente de uma vida.
Este singelo "presente" (50€ que transferi há pouco para a conta do Dinis) é de todos os amiguinhos do João e das educadoras e auxiliares da creche Os Pequenos Índios e é também um presente para todos estes meninos e meninas, que lhes vou fazer chegar e que espero que gostem!
O João não terá provavelmente ainda consciência do signifcado deste miminho (ainda que lhe vá mostrar este email e explicar-lhe) porque não tem ainda 3 anos, mas um dia saberá, até porque ele vai querer, concerteza, dar este xi-coração pessoalmente ao Dinis.
Desejo ao Dinis e a toda a família, muita esperança para o novo ano que aí vem e boa sorte! Um beijinho ao Dinis de todos nós.
Carla Lorvão
(subscrevem também este email o Flávio e a Maria - papá e mana do João)"

2. Email aos Pequenos Índios:

"Meus caros pequenos e grandes índios e índias,
Nem imaginam as voltas que a minha cabeça deu a pensar num presente de Natal para cada uma das grandes índias que toma conta do nosso Joãozinho. Eis senão quando me lembrei que o efeito de dar, é de facto o melhor presente.
E porque não dar o que se dá ?
E porque não dar a quem precisa mais ? Não falo apenas do contributo monetário que ajudará claro, nas pesquisas e intervenções necessárias para que, em termos de qualidade de vida, o Dinis possa sentir-se melhor. O contributo de todo o calor humano, de solidariedade, que este menino possa receber, valerá por milhões.
Por isso, e porque vos conheço um pouquinho, achei que iriam gostar muito deste presente de Natal que vos oferecemos, Vanda, Sofia, Sara, Isabel, Hélia e Joana, estendendo-o a todos os amiguinhos do João. O João enviou a mensagem abaixo ao Dinis que por certo irá adorar conhecer toda a tribo.
Apresento-vos também o Dinis e a sua história, através do seu site http://www.dinis.webnode.com/ e também poderão aceder aos links, abaixo, no email do pai do Dinis.
Como hoje vamos receber um grande presente vosso, na festinha de Natal, que por certo nos irá rasar os olhos de emoção, esta nossa lembrança para vós, segue para a troca :)
Feliz Natal e Excelente Ano de 2010
Grande beijinho a todos
Carla, Maria e Flávio"

3. Resposta dos Pequenos Índios:

"Em nome dos Índios e Índias desta escola, agradeço do fundo do coração.
E, não sei como, mas consegue sempre pôr-me lágrimas nos olhos, através dos seus pequenos grandes gestos, que fazem de si a pessoa “gigante” que é.
Um grande beijinho e obrigada.
Sofia, Vanda, Joana, Hélia, Sara e Isabel"

4. Resposta do pai do Dinis:

"Boa noite Flávio, Carla, João e Maria…
Estamos de lágrima nos olhos… é de facto maravilhoso saber que existem tantos coraçõezinhos, apesar de distantes, a pensar no bem estar do nosso menino.
Apesar de só terem 3 aninhos… estas crianças conseguirem encher o nosso peito de novas energias e conseguiram transmitir que a força não tem medida….sente-se e pronto!
Parabéns pela dedicação, pela coragem e pela forma como transmite ao pequeno João esta forma de se dar e de se amar.
Queríamos muito pedir autorização para colocarmos este LINDO presente no site do Dinis – seria uma honra muito grande.
Votos de um Santo e Feliz Natal e que Deus vos ajude… a nós tem-nos ajudado todos os dias… tem colocado nos nossos caminhos verdadeiros anjos!
Paulo, Sofia, Gonçalo e Dinis"

5. Resposta ao pai do Dinis

"Bom dia Paulo,
Nós é que agradecemos a inspiração. O desejo de que o Dinis fique bem é a voz que se ouve com maior intensidade, por isso, se tivermos que gritar, fá-lo-emos.
Uma vez que o postal tem a fotografia de muitos meninos, terei que pedir autorização na escolinha para averiguar junto dos pais se efectivamente se poderá publicar no site do Dinis. Nós gostaríamos muito que sim, e por isso, peço a colaboração das grandes Índias para fazerem o favor de questionar os papás.
Já agora acrescento que a creche Os Pequenos Índios gostaram também muuuiiiitooooo deste presente de Natal.
Mais uma vez, obrigada e até breve!
Carla, Flávio, João e Maria

domingo, 13 de dezembro de 2009

Generosidade

Não foi uma notícia de jornal que li ou uma reportagem de tv que vi, daquelas que me impressionam de tal forma que questiono ingenuamente incrédula: será que há realmente pessoas assim? Pois bem, há-as e bem perto! É assustadora a força da mágoa a manipular a mente, alterando perspectivas e levando-as para bem longe da razoabilidade. Poderão ser apenas palavras proferidas com tamanha dor, acompanhadas de uma raiva tão intensa que ouvi-las é já um verdadeiro filme de terror para mim. O bestial passa a besta numa abrir e fechar de olhos, os sentimentos mudam, as prioridades alteram-se, a realidade passa a ser outra. O desejo de vingança prevalece e eu, uma vez mais, sinto a desilusão.
É tão preciso ser-se generoso. Ser assim nobre, não digo que seja fácil, porque a generosidade representa uma atitude gratuita, mas quando se é generoso, também não se pensa em cobrança, por isso é a coisa mais simples do mundo. Basta um pouco de despojamento, e é bem mais proveitoso ocupar o pensamento e a energia à procura de soluções realmente eficazes do que perder tempo e criatividade a elaborar planos que mais não farão do que aumentar a instabilidade e dividir famílias. Mesquinhez poderá levar alguém ao 1º lugar do podium mas o verdadeiro problema subsistirá.
O melhor prémio será a consciência tranquila e o prazer de dar (afinal até há uma recompensa!). Só assim faz sentido para mim. Tempo, companhia, carinho, cuidado, dedicação. Amor. Ouvir, estar, compreender, ajudar. Amar. Tenho esperança que a luz aclare ideias e que tudo volte ao lugar, bem arrumadinho! Ouvi, mas não gosto de filmes de terror, por isso espero não vir a assistir a nenhum!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Incompreendida ou não entendida

Como é que ainda fico surpreendida com a incompreensão ou o não entendimento de mim por pessoas que mal me conhecem ou que, digo mesmo, que nada me conhecem?
Não deveria ser a sinceridade compensadora por si mesma? Não seria a transparência a moeda justa de troca pela confiança de outros? Cada vez mais me parece que não. Frustra-me e irrita-me. Provavelmente julgam-me cínica, falsa, mas como é isto possível?! Como é que consigo enganar assim certas pessoas ? Pessoas próximas, porém distantes, claro! Não pode ser, não consigo acreditar que a minha essência não seja reflectida, que eu não espelhe a minha verdade, que é pura e simples e completamente despojada de pejorativos interesses. Sou grata por ser e estar, pelos sorrisos e lágrimas que lisonjeiramente testemunho, pelo que me é permitido contemplar em gente, em sítios, em coisas. Em troca, respeitem-me como a uma anónima, é melhor do que inventarem sobre mim.
Constato que a prudência é o melhor aliado. Afinal, aquela transparência não é mais do que uma exposição que se revela nefasta. E cá estou eu, também a ser formatada, a deixar-me de lado para aproximar-me do estereótipo convencional e obter a aceitação, livre de preconceito. Cá estou eu a ouvir os outros conjecturarem sobre a minha pessoa, sem nada saberem dela. O que é certo é que os ouço e que acabo por ser manipulada. Fraca, também me canso de estar sempre na linha da frente em combate e cedo, provando mais um pouquinho do sabor da derrota. A irreverência também pede férias ou então é levada pelos anos que passam. Odeio negligenciar, mas preciso descansar…

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Verdadeiro espírito de Natal


Não posso deixar de publicar este pedido que acabei de receber. Reflecte o espírito natalício que subscrevo. É preciso ter coragem para renunciar assim ao materialismo e assumi-lo perante família e amigos e vizinhos. A Leonor ainda é pequenina, tem só 4 anos, mas EU SEI, já vi, que ela também percebe e aceita isto com um grande sorriso. Bravo!!!


"Amigas, Vizinhas, e família
Antes de mais votos de excelente Natal!
Pois cá venho eu falar-vos de um tema que me incomoda e como já sabem que sou assim …. avanço com a minha já tão conhecida frontalidade:
Este ano, gostaria de partilhar convosco o seguinte:
1. A Leonor tem milhões de brinquedos
2. Neste altura do ano, vai receber outros tantos (avós, e família directa, empresa)
3. Não aprecio mesmo nada o momento de abertura compulsiva dos mesmos na noite em que é suposto estarmos com miminhos e muitos!
Pelo que, espero que não se sintam incomodados com a minha decisão mas peço-vos para NÃO comprarem prenda de natal para ela. Não deverá ser uma obrigação pelo que fica aqui o meu pedido…. A minha filha também agradece, pois é uma forma de educação. Ter menos, para SER mais…
O Natal não é isso, e a vida não está para isso.
Em vez disso (e caso pretendam) agradeço que canalizem a quantia que iam gastar com ela em algo que possa ajudar as crianças que de facto necessitam. Ou não, cada um sabe da sua vida.
No que me diz respeito, vou agarrar numa determinada quantia e vou distribuir pelas associações que conheço, com alimentos e outros bens de 1ª necessidade. Faço-o sempre, mas agora farei talvez com outro maior cuidado.
Todos os anos há uma escolha em minha casa, de dezenas de brinquedos com que não se chegou a brincar… e não é justo.
Como decerto entenderam, cada um fará o que melhor decidir, mas no meu caso e olhando para todos vós (felizmente) não vejo necessidade deste consumo e não me parece que as vossas crianças fiquem mais felizes com o presente residual que se oferece no Natal. Nem a minha criança.
Nos aniversários das mesmas, aí sim (na minha perspectiva) deve ser o momento das crianças.
Um beijinhos para todos e se quiserem apareçam para beber uma taça de vinho, champagne ou água simplesmente! Serão muito bem-vindos, mas sem presentes ! Isso sim ela vai adorar e nós também. Fico à vossa espera!"

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Aceitação

Integrei há uma semana uma nova equipa de trabalho. São pessoas que já conhecia e os projectos também não me são estranhos. De resto, desde Fevereiro último, tudo na minha vida têm sido mudanças e adaptações. Isto implica que nos apresentemos sempre como uma página em branco. Sucedem-se as apresentações, há sempre algum rosto no qual nunca reparámos ou que estamos a ver efectivamente pela primeira vez; e há reencontros, muitos, porque este mundinho é mesmo muito pequeno. E, como vamos amadurecendo e adquirindo experiência e conhecimento, também para os que já nos conhecem, fazemos parte de um outro contexto, de uma nova realidade. Há, no entanto, um pormenor comum, o de desejarmos ser aceites.
Curioso é que o tentamos pela via pessoal, procuramos encontrar nas conversas que vamos gerando ou em que nos vamos infiltrando, pontos em comum, algo que nos ligue e naturalmente nos aproxime, das nossas vidas privadas: falamos das primeiras vezes dos nossos filhos bebés, preocupamo-nos ou não tanto com a gripe A, descrevemos viagens e desabafamos o desejo de voltar a ter férias, partilhamos o que vai ser o jantar hoje e como o confeccionamos, confessamos que gostávamos de ter um cão, mas que é um desejo egoísta porque vivemos num apartamento… Enfim, uma panóplia infindável de hábitos e opiniões que nos aproximam numa relação que extravasa o banal, porque realmente nos importam estas conversas, e fica ali numa zona cinzenta, porque também ainda não atingimos aquele ponto de intimidade que nos leva de colegas a amigos.
Mais curioso ainda é que indubitavelmente, existe um dado comum a todos nós que é o trabalho, os projectos, a nova equipa, os recém chegados chefes e dedicamos-lhe apenas cerca de 20% destes momentos de conversa que vamos tendo ao longo de todo o dia. A aceitação pessoal toma assim as rédeas e é protagonista, em detrimento da aceitação profissional.
Sou muito ingénua, mas será porque aqui o nosso real interesse é competir, ter as melhores ideias sem as divulgar com receio de no-las roubarem? Fechamo-las a 7 chaves até termos abertura para as revelarmos, em segurança, ou quando entendemos ser oportunos. O momento certo no lugar certo pode transformar qualquer um de nós, simples operacionais, num ”cérebro” e ganhar a tão desejada aceitação. Esta aceitação, profissional, a este nível, não a conseguimos obter de todos. É pena, porque a competência e a eficiência deveriam ser, por si só e pelo que lhes é inerente, o principal motivo de aceitação neste mundo tão “cão”. Há posturas e atitudes que não entendo. Eu quero participar, ter a coragem de dizer talvez o que nem faça sentido ou o que seja irrelevante, mas efectivamente partilhar porque o meu entendimento é que posso contribuir para um objectivo comum. Não é preciso brilhar, não precisamos do palco, apenas ter a oportunidade de nos fazermos ouvir… ou não será esta uma forma generosa de nos sentirmos aceites?

Expectativas...



Aqui está mais uma reflexão, não minha, mas que alguém me deu como resposta neste contexto:

Ela - "A tua filha tem boas notas ?"
Eu - "Eh! Mais ou menos, teve 2 testes de 50 e tal %, um de 89% e os outros são todos de 70 e tal..."
Ela - "Ah, então ?! São notas boas, porque falas assim, meio desiludida ?"
Eu - "Porque sei que se ela trabalhasse mais, se fosse menos preguiçosa, as notas seriam muito melhores! Distrai-se com muitas coisas."
Ela - "Já pensaste que ela pode ser mais feliz assim ?!"

"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades.Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas.Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos.Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar.Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição. Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito.É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho. Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a tomar Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos.Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.
Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"

De João Pereira Coutinho

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Choque












a minha pequenina cresceu…
ainda vejo aquela boneca que foi à escola a primeira vez…
o seu coração despertou…
a menina ficou mulher…
já sabia mas não via assim…
memórias e lembranças levam-me até bem lá atrás no tempo…
mais uma etapa, mais um começo…
anseio por tudo saber…
quero respeitar, acima de tudo…
resta-me estar por aqui…
não sei bem de que forma…
o momento, ao saber, que me chocou…
foi o que tanto me emocionou…
não poder dar aquele abraço...
saber que o seu coração despertou…

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A call to bring the world together…

Não posso deixar de publicar este apelo aqui. Para já, em inglês, vou depois tentar traduzir. O link está aqui ao lado, que designei como "Das mais nobres qualidades" para consulta...

"The principle of compassion lies at the heart of all religious, ethical and spiritual traditions, calling us always to treat all others as we wish to be treated ourselves. Compassion impels us to work tirelessly to alleviate the suffering of our fellow creatures, to dethrone ourselves from the centre of our world and put another there, and to honour the inviolable sanctity of every single human being, treating everybody, without exception, with absolute justice, equity and respect.
It is also necessary in both public and private life to refrain consistently and empathically from inflicting pain. To act or speak violently out of spite, chauvinism, or self-interest, to impoverish, exploit or deny basic rights to anybody, and to incite hatred by denigrating others—even our enemies—is a denial of our common humanity. We acknowledge that we have failed to live compassionately and that some have even increased the sum of human misery in the name of religion.
We therefore call upon all men and women ~ to restore compassion to the centre of morality and religion ~ to return to the ancient principle that any interpretation of scripture that breeds violence, hatred or disdain is illegitimate ~ to ensure that youth are given accurate and respectful information about other traditions, religions and cultures ~ to encourage a positive appreciation of cultural and religious diversity ~ to cultivate an informed empathy with the suffering of all human beings—even those regarded as enemies.
We urgently need to make compassion a clear, luminous and dynamic force in our polarized world. Rooted in a principled determination to transcend selfishness, compassion can break down political, dogmatic, ideological and religious boundaries. Born of our deep interdependence, compassion is essential to human relationships and to a fulfilled humanity. It is the path to enlightenment, and indispensible to the creation of a just economy and a peaceful global community."

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A consciência é o antídoto para a imbecilidade

A propósito do post de ontem, tenho que publicar aqui este texto, válido para as crianças adolescentes e para os crescidos também:

“Sabes qual é a única obrigação que temos nesta vida? Pois é a de não sermos imbecis. A palavra «imbecil» é mais densa do que parece, não duvides. Vem do latim baculus, que significa «bastão»: o imbecil é o que precisa de um bastão ou bengala para andar. Que não se zanguem connosco os coxos nem os velhos, pois a bengala a que nos referimos não é a que muito legitimamente se usa para ajudar a sustentar-se e a andar um corpo enfraquecido por algum acidente ou pela idade. O imbecil pode ser tão ágil quanto se queira e dar saltos como uma gazela olímpica, não é disso que se trata. Se o imbecil coxeia não é dos pés, mas do espírito: é o seu espírito que é enfermiço e manco, embora o seu corpo possa dar cambalhotas de primeira. Há imbecis de diversos modelos, à escolha:
a) O que acredita que não quer nada, o que diz que para ele é tudo igual, o que vive num perpétuo bocejo ou numa sesta permanente, mesmo que tenha os olhos abertos e não ressone.
b) O que acredita que quer tudo, a primeira coisa que lhe aparece e o contrário do que lhe aparece: ir-se embora e ficar, dançar e estar sentado, mascar dentes de alho e dar beijinhos sublimes, tudo ao mesmo tempo.
c) O que não sabe o que quer nem se dá ao trabalho de o averiguar. Imita os quereres dos seus vizinhos ou contraria-os porque sim, tudo o que faz é ditado pela opinião maioritária daqueles que o rodeiam: é conformista sem reflexão ou revoltado sem causa.
d) O que sabe que quer e sabe o que quer e, mais ou menos, sabe porque é que o quer. Mas que pouco, com medo ou sem força. Acaba sempre por fazer, bem vistas as coisas, o que não quer, deixando o que quer para amanhã, pois talvez amanhã esteja mais bem-disposto.
e) O que quer com força e ferocidade, em estilo bárbaro, mas se enganou a si próprio acerca do que é a realidade; despista-se em grande e acaba por confundir a vida boa com aquilo que o há-de tornar pó.
Todos estes tipos de imbecilidade precisam de bengala, ou seja, precisam de se apoiar em coisas de fora, alheias, que nada têm que ver com a liberdade e reflexão pessoais.O contrário de se ser moralmente imbecil é ter-se consciência.Em que consiste essa consciência, que nos curará da imbecilidade moral? Fundamentalmente nos traços seguintes:
a) Saber que nem tudo vem a dar no mesmo porque queremos realmente viver e, além disso, viver bem, humanamente bem.
b) Estarmos dispostos a prestar atenção para vermos se aquilo que fazemos corresponde ou não ao que deveras queremos.
c) À base de prática, irmos desenvolvendo o bom gosto moral, de tal modo que haja certas coisas que nos repugne espontaneamente fazer (por exemplo, termos «nojo» de mentir como temos em geral nojo de mijar na terrina da sopa em que vamos comer a seguir…)
d) Renunciarmos a procurar argumentos que dissimulem o facto de sermos livres e portanto razoavelmente responsáveis pelas consequências dos nossos actos.

” F. SAVATER, Ética para um jovem"

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Crianças adolescentes

Desde a semana passada que o meu pensamento me leva frequentemente à reunião em que participei, do Conselho de Turma da turma da Maria, na qualidade de Representante dos Encarregados de Educação. Receio ser injusta na impressão geral com que fiquei, mas parece-me efectivamente que apenas se cumpriu um pró-forma. Admiro a Directora de Turma que provou, ao longo destes 3 anos, ser uma verdadeira educadora, com experiência e visão, sempre muito objectiva e imparcial nas suas apreciações. Mais uma vez o foi e até manifestou alguma preocupação ao escutar a voz dos alunos (a Delegada de Turma, também presente, levou uma lista de “recados”) já que existe um problema identificado que acaba por caracterizar a turma. Há um pequeno grupo de “desordeiros” que coloca a turma no top do ranking do mau comportamento naquela escola.
Estas crianças, assim se devem chamar, que até reconhecem as suas atitudes menos próprias e sabem o que fazer para mudar, levam a cabo apenas metade do trabalho: registam os erros e apresentam as intenções de correcção, infelizmente, apenas as intenções, porque tudo se repete. No meu 7º ano, lembro-me também de fazer parte de uma turma em que um grupo de 5 ou 6 fazia a vida negra aos professores, incendiando caixotes do lixo, partindo as janelas para sair para o recreio, faltando às aulas e/ou indo frequentemente para a rua, enfim, até me lembro do constrangimento que senti quando, por causa daquele bando, tivemos uma falta colectiva. Nunca tal! Este parêntesis serve para concluir que não são os dias de hoje, em que tudo é facilitado a estas crianças adolescentes, em que lhes é dado acesso a tudo e mais alguma coisa e, pobrezinhos, para não causar qualquer tipo de trauma a estas cabecinhas, homens de amanhã, deixamo-los livres e confiamos neles ou tapamos intencionalmente os olhos. Mas sempre assim foi, sempre houveram “maus da fita” ou até outro tipo de perturbadores. Quem não teve na turma um cromo ou uma miúda que trocava de namorado todas as semanas ou ainda a que se vestia estranhamente todo de preto ou a parola da aldeia das redondezas.
Esta é uma turma heterogénea. Na escola, tal como em qualquer local de trabalho, confrontamo-nos com colegas diferentes, mais ou menos competentes, responsáveis ou negligentes, empenhados ou desmotivados. Temos que preparar esta gente para saber lidar com a diferença, é fundamental falar-lhes de bom senso, de equilíbrio, de razoabilidade, da valorização e da penalização, do que leva a um ou a outro caminho, de ensiná-los a usar a sua condição de inteligentes para um bem comum. O trabalho a fazer é agora, mas confesso, não sei se confio no grupo de professores que trabalham esta turma e outros grupos outras. No fundo, também não resta alternativa: um diz frequentemente aos alunos que não gosta de ser professor e que já devia estar reformado; outra permanentemente faz troça dos miúdos, desrespeitando-os; outra fala-lhes mal da colega, também professora deles; vi nitidamente uma mudança de atitude face à abordagem de uma aluna, quando percebida a minha presença; a própria reunião foi “a despachar”, quando, a meu ver há assuntos verdadeiramente importantes a tratar e rotas a traçar, estratégias a implementar.
Cometemos, nós, adultos, um erro crasso, que é substimar estas pessoas, estes adolescentes que pouco têm de inocência, mas muito de esperteza. E, claro que entendem o que fazem, óbvio que têm noções claríssimas de justiça, sabem muitíssimo bem distinguir o bem do mal. E, como herança de crianças, ninguém como elas tem a sabedoria de dispor de todos os meios ao alcance para atingir objectivos, para conseguirem o que querem. São persistentes e nós não fazemos mais do que ceder. É um cenário ambíguo, este, por um lado devemos tratá-los como crescidos, por outro, temos que utilizar a autoridade para dizer-lhes que ainda não são tão crescidos assim. Uma coisa é certa: ainda que eles nos ouçam dizer como deve ser, só vão mesmo fazer como nós fazemos. E nenhum destes crescidos, supostamente educadores (pais e professores) dá o exemplo!

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Intensa paixão

Senti uma paixão desmesurada por uma mulher. Cautelosa no início, tentei perceber que terreno estaria a pisar. Mas foi inevitável, não foi um amor à primeira vista, mas um sentimento que rapidamente cresceu em força e intensidade. Daqueles que até desgasta, que não nos sai da cabeça, que causa aquela ansiedade que nos faz olhar p’ró relógio p’ra saber se são horas já de ela chegar, que nos ocupa o pensamento noite fora e não trava o impulso de um sms antes de dormir.
A graciosidade na postura, as palavras que, de impulso, lhe ouvimos, com graça inigualável, tamanha genuinidade, atracção inevitável. O trabalho é a sua fonte de vida: ultrapassar o nível máximo de responsabilidade e competência é um desafio que encara espontaneamente como obrigatória. E nunca conheci ninguém tão perspicaz e atento.
Quando, por longos momentos não esteve, instalou-se o vazio, uma saudade daquelas que doía, a tristeza da incerteza, a raiva por quem decide e dispõe. Longe da vista, longe do coração. Melhor não falar, não promover o encontro ou o telefonema, deixá-la lá, no canto dela, sozinha. Percebi isto, quando compreendi que nada, mas mesmo nada a desviava daquele buraco negro, porque de lá não queria sair a não ser por um único motivo. O mundo cá fora continuava a girar, muito deste mundo, a girar em redor dela. E conseguiu, quem ela queria que viesse salvá-la, realmente apareceu. Então, voltou, ela voltou…
Senti uma paixão louca não correspondida. Senti uma paixão louca a aquietar-se, a suavizar-se, provavelmente uma relação a amadurecer. Ou então entendi o retorno de outra forma. Tenho vindo a constatar que esta mulher forte é também menina frágil, com uma história de vida dura que lhe vestiu esta armadura e, de arma em punho se defende de qualquer ameaça à sua vulnerabilidade. Essa menina dificilmente se deixa mostrar.
Já me deu muito, esta mulher. Já me fez sentir muito, bom ou menos bom, mas sempre muito intenso. A brincar é intensa, o olhar é intenso, a conversa é intensa, o trabalho excede até o intenso.
Não entendo ainda algumas coisas, por isso continua a ser estimulante. Ela continua por aqui… E também continua a pairar muita cor, vivacidade e luminosidade…

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Efeitos de mim…

É curioso que eu tenha decidido iniciar este blogue como terapia. Ressalvo, eu fui obrigada, ainda que não coagida, a criar este blogue. Decidi ir em frente e os efeitos em mim são surpreendentes. De tal forma que já nem sei se tenho que arranjar uma terapia para esta terapia, para me atenuar este vício, que vem do prazer de ler o meu pensamento. Há um desejo constante, uma vontade permanente, de deitar para fora, de expressar, de arrumar ideias, de tirar conclusões, de comentar, de criticar, de desabafar…. Isto até pode soar a egocentrismo excêntrico, mas o que é certo é que este blogue é mesmo para mim, é o meu espelho.
Vou percebendo, no entanto, que as evasões e os encontros em mim, que partilho, sem querer, com quem não sei, tornam-se reflexão e interesse desses que conheço ou não. Seja de uma forma positiva ou negativa, vou tomando consciência que o que escrevo produz efeitos, não só em mim: mexe, agita, perturba, desconcerta, inquieta; tranquiliza, acalma, aquieta, dispõe bem.
Posso registar alguns retornos:
- já houve quem me pedisse para apagar um desabafo, pelo efeito perturbador que lhe causara, quanto a mim uma postura atrevida e que me colocou nesta posição, que odeio, de ser contrariada. Acedi, por respeito à pessoa daquele momento, não à pessoa de hoje, que constato acentuou a sua característica menos favorável: a cobardia. Deixa-me um pouco frustrada que o efeito não tenha sido outro, pretensão talvez, mas preferia ter visto esta pessoa crescer em integridade e maturidade;
- sei de uma pessoa que acede diariamente a este blogue, à procura de novidades, lê-me porque se revê no que sinto. Não conheço, mas se faz esta pessoa sentir-se bem, excelente. Deixo-lhe aqui o desafio para me dar um pouco de si também. Vá lá, não é só receber, comenta, deixa o teu pensamento fluir e partilha-o;
- há uma amiga que considero irmã, que vem cá espreitar com regularidade. Já lhe despoletei surpresa, porque afinal não tinha percebido – os irmãos são assim, por vezes julgam que estão sempre por dentro de tudo em nós, mas depois há mais qualquer coisa, em que não reparámos. Talvez eu, em relação a ela, também seja assim. Mas o seu discurso é sempre tão racional, tão ponderado, com os factos, ideias e sensações tão bem encadeados quando se expressa, que parece terem sido pré-cozinhados. Cito um paradoxo: “A melhor improvisação é aquela que melhor é preparada.” Até os seus estados de nervos são calmos e já assisti a alguns, bem dramáticos! Sinto que entendo muito bem esta minha amiga: ainda ontem ela reagiu a um post com um simples “não consigo comentar!” e não precisou dizer mais nada. O que mais recebo dela é conforto e calma e a certeza de que está lá p’ra mim (e ela sabe que é recíproco);
- parece que a minha veia de escrita lúdica também está a produzir frutos. Se repararam, foi-me pedida autorização para publicar um dos meus posts noutro blogue. E claro que sim, lá vai um pouco mais de Lixa por esse mundo fora!;
Por isso, teu silêncio em mim, brindo novamente a ti!!! És o princípio! Obrigada também a ti, em nome de todos os que por aqui passam.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

“Memórias de um passeio a Portimão” ou “Viagens na minha mota”

Insistem em que seja eu a escrever sobre mais um fim de semana motard. Mas esquecem-se que sou completamente leiga nestas lides e que a minha percepção vai direitinha para o convívio envolvente. Vou, porém, tentar ser um pouco factual. Ora cá vai:
Ah e tal, Superbike em Portimão no fim de semana de 24 e 25 de Outubro…ok, ‘bora aí angariar people e vamos dar uso às motas e curtir as estradas e paisagens de Portugal. Para começar, os saloios que moram ali a 2 passos de Setúbal, o último ponto de encontro, chegaram super atrasados. De tal forma que só 1 hora depois do combinado, se juntaram à malta à entrada do barco rumo a Tróia. Tudo animado, quando se vai para a festa! O tempo ajudou, até podia ter estado um pouco menos de calor, já que alguns iam preparados para a intempérie. A travessia fez-se num ápice, julgo que ninguém sequer procurou golfinhos, tal era o desejo de conversa e de afinar o trajecto e, claro está, de voltar para as motas. O objectivo era agora Porto Covo para apreciar algumas iguarias da região, ao almoço.
A minha veia sensível não pode deixar de se pronunciar sobre a beleza de toda a paisagem que nos é permitido apreciar quando se viaja “à pendura”. Assim, descontraidamente, ao ar livre (diferente de uma viagem de automóvel) há uma série de sensações que, de outra forma, não se experimentam: quem não sente o frio, depois mais calor, a seguir mais vento… e os cheiros? Ora a eucalipto, ora a pinheiro, e ali a chegar a Porto Corvo, incrível toda aquela frescura do cheiro a mar, de tal forma envolvente que já tínhamos, então, o apetite aberto. Pois claro está, como não podia deixar de ser, sentámo-nos num restaurante típico – numa pizzaria – podem acreditar nisto?! Almoço em Porto Covo para comer pizzas, massas e bruschetas. Só mesmo a saloiada da capital!
De papo cheio, a partir daqui houve alguma dispersão: uns, aventureiros, quiseram continuar por caminhos de curvas e montes; outros, com compromissos familiares, seguiram por outras bandas; outros ainda, ansiosos por chegar ao autódromo, para levantar os tão desejados bilhetes SBK que podiam até valer um motão e outras coisas mais, por sorteio no final do evento (que nenhum de nós ganhou, não sei como!). Eu, que não estou nada habituada a estas lides, como já tinha dito, apreciei, radiante, a chegada ao autódromo. Para começar, a estrada que nos leva até lá: motas p’ra lá e p’ra cá, de todas as marcas e modelos, tons e sons, mas em comum todas “a abrir”, “a esgalhar”, “prego a fundo”, enfim, a explorar as potencialidades deste nobre meio de transporte. Á chegada ao recinto: motards estilosos e pirosos; exibicionistas e discretos; motoqueiros e pastilheiros de 2 rodas; velhos e novos; motardas armadas em boas e outras mesmo boazonas; penduras de biquini ou de polar, conforme o site de previsão do tempo que consultaram na véspera.
Mas estava cá um calor! Água primeiro, muita água, porque destilávamos! Depois, t-shirts novas, temáticas, compradas nas barraquinhas dos espanhóis, sin tarjeta, só cash, o que não facilita nada porque nos refreia a vontade de comprar (talvez até seja melhor!). Aproveitando a concentração de pessoal e, no Algarve, sabemos que depois do Verão, é o deserto, a abordagem de algumas pessoas a promover locais de lazer e a distribuir publicidade era mato. Ainda pensámos em marcar jantar surpresa num restaurante de striptease… calma, meninas! Despiam-se mulheres, mas também homens, só por isso equacionámos, mas, não querendo ferir susceptibilidades, optámos por não avançar (até que o panfleto tinha bom aspecto! Talvez numa próxima…).
Abalámos rapidamente para apanharmos as chaves dos apartamentos que até foram uma agradável surpresa, pelo menos o T1 onde fiquei, apesar de ter dormido na sala. Vista para o mar, o pôr e o nascer do sol e, em baixo, uma esplanada bem simpática para a happy hour antes do banho e do jantar. Claro está, desta feita, as saloias da margem sul, fizeram esperar a malta a aguar por um peixinho grelhado, porque resolveram montar um cabeleireiro em casa (que falta de sentido prático, viajar de mota, que até tem uma bagageira avantajada, levar pijama e ferros de engomar cabelos!).
A pé à procura de um restaurante que nos parecesse digno da nossa presença, fomos até ao outro extremo de Armação de Pêra. Confesso que fiquei surpreendida com as mudanças desta terra desde que há uns 3 anos aqui estive. Apesar de desertas, as ruas e praças à beira mar proporcionam um agradável passeio por entre espaços bem melhorados e exclusivos para peões. O caminho de regresso aos apartamentos serviu para “esmoer” o belíssimo manjar, entre um jogo de matrecos num salão de jogos sem viv’alma e uma voltinha de mota naquelas máquinas simuladoras que tentam aproximar-se da realidade (Manx TT), para matar saudades.
Restabelecidos do cansaço do dia anterior, e energias renovadas com um super pequeno almoço (eu, pelo menos, comi por 2!; ninguém arranjou farnel para levar e também ninguém ia com vontade de passar horas em filas para comprar sandochas e imperiais) eis que chega o grande momento Superbike. Lá montámos nós as máquinas e depois de estacionadas as meninas, muito direitinhas e certinhas, à sombrinha, dirigimo-nos para a bancada Lagos que trocámos pela da TMN por nos parecer melhor localizada (tal era o povo, até deu para escolher os assentos!). Estávamos, então, prontos para assistir à consagração do campeão do mundo desta prova. Torcíamos por Ben Spies que baptizei, porque não percebo mesmo nada disto, de Ben Spixa. Parece que o moço ganhou isto, representando a Yamaha, ainda por cima novo nestas andanças e lá levou ele o título p’rás Américas, batendo o da Ducati, Noriyuki Haga (muito mais fácil de pronunciar, este!). Em jeito de balanço, palmas para a sra. Yamaha que ganhou 3 mundiais: SuperBike - Ben Spies; MotoGP - Valentino Rossi e Supersport - Cal Crutchlow.
Depois, estivemos a torcer pelo Miguel Praia na Supersport, ou não fôssemos tugas fiéis ao que de melhor temos. Só que aqui, o rapaz lá conseguiu terminar em 10º lugar mas, ainda assim, a equipa que representava, a Parkalgar Honda acabou vice-campeã desta prova, tendo o Eugene Laverty, outro elemento desta equipa, ganho esta corrida.
Bem, lá consegui reproduzir aqui alguns factos, mas digo-vos, a malta assistiu a 2 corridinhas, viu 2 gajos a cair e enrolarem-se lá na gravilha fora de pista, mas nada de extraordinariamente emocionante. Nem gajas daquelas com calçonetes a verem-se as bordinhas e tops atrevidos havia, para regalar o olho dos homens do grupo! Apesar de até ter gostado, porque nunca tinha assistido a nada do género, o calor era insuportável, a fome apertava, já ninguém queria saber de corrida nenhuma e decidimos visitar o genuíno franguinho da Guia. Não antes, porém, de usufruirmos da gentileza de um espanhuel que nos tirou umas fotos de souvenir: “patataaaaaaaaaaaaaa!!!!”.
Parecíamos a Cª Batatoon, de narizes vermelhos, e… exaustos! Morfámos que nem uns doidos e só queríamos que, por toque de magia, por um estalar de dedos, a nossa caminha nos aparecesse à frente. Apesar do prazer da permanente presença da sangria nas refeições, de umas swingadas (de motas, claro!) e do salutar convívio, viemos a abrir, desejosos de chegar a casa. Montámos ainda de dia, e desmontámos já noite cerrada porque a hora mudara nessa madrugada. Vínhamos, agora, da festa, completamente esgotados, mas com mais esta história para contar!

por Lorvão, Carla – Chica Motera
com a colaboração de Ben Spixa

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Agora que vais...

Estava ali de volta dos tachos, quando a minha mente foi assolada por uma revista da minha vida de 8 anos em comunhão contigo. É impressionante como só neste momento, em que realizo efectivamente que vou ficar privada da tua companhia diária, essa realidade me é mostrada como tal, ainda que há já imenso tempo sei que vais.
Tantos momentos acordam da minha memória que nem sei já contextualizá-los ou datá-los. De colega a chefe, de chefe a colega, amigas, penso que a partir de determinada altura da primeira fase, fomos sempre. Algumas vezes mais ouvintes, outras mais íntimas, outras ainda mais disponíveis. Conheces-me bem, em tantas frentes, já pensaste ? Ouves-me diariamente a perguntar-te coisas: “como se faz isto ? como hei-de fazer aquilo ? onde encontro isto ou como pesquiso aquilo? questões às quais já me respondeste dezenas de vezes e, mais uma vez, pacientemente, me explicas tudo como se fosse a primeira vez; sentas-te ao meu lado para eu te contar o meu fim de semana; vamos tomar café p’ra me contares porque tens o coração a bater forte ou as mãos a tremer; avaliaste o meu desempenho no trabalho o que significa que tiveste que pensar em mim muito a sério; choraste timidamente ao pé de mim, em stress; escondeste o que não podias contar por imposição profissional – compreendi sempre, por incrível que pareça, e respeitei; partilhaste toda a tua vida comigo e eu a minha contigo. Somos alegres, brincalhonas, desbocadas e cuscas, somos companheiras e atrevidas, tu és cromita. Como eu admiro esse teu desejo de conhecimento e essa proactividade na permanente procura dessa satisfação, essa atitude de autodidacta que te faz ir à fonte e beberes de tudo até ficares embriagada de know-how (há aqui um 2º sentido nesta coisa dos copos!). Por vezes penso que és uma pessoa com capacidades subaproveitadas. Não era aqui que devias estar, não é este o teu lugar, mas por outro lado, ainda bem que por aqui andaste, porque tropecei em ti. Por tudo isto e muito mais, obrigada. Agora vem a parte mais difícil, que é manter um pouco disto que tivémos e alcancámos daqui em diante. Estes meus olhos que neste momento rasam e não conseguem conter uma lágrima bem gorda representam orgulho em ti, que vais seguir o caminho que escolheste. Boa sorte, do fundo do coração! E tanto fica por dizer...

(estas galinhas, podíamos ser nós... achei-lhes graça!)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Meia hora de outras vidas

Este fim de semana o meu coração começou a palpitar novamente. Comecei outra vez a senti-lo querer sair do peito com toda a força. Sim, alguns momentos de stress. Uma proposta para decidir aceitar ou não. Tenho que pensar…
Vivi, entretanto, e no meio de tanta agitação, meia hora de silêncio, que me foi permitida pela sesta do meu Joãozinho. Enquanto esperei que acordasse, já que dormia dentro do carro, mantive-me, não introspectiva, mas observadora do mundo envolvente. É incrível a diversidade de vidas que nos é permitido espreitar: ouvi uns gritos estridentes de palavras imperceptíveis desvendados entretanto pela proximidade da personagem que os protagonizava – um chinês maluco que esbracejava e apontava o dedo para o céu, com tal veemência, cuspindo palavras que ninguém entende, pois pudera, em chinês! Depois, vi passar 3 homens, ou melhor, 2 homens e 1 menino – os 3 de calcinha de pinça, camisa e gravata (sim, o menino também!); os 3 com as pastas pela mão (e sim, o menino também!) – logo me apercebi que se tratavam desses evangelizadores não sei de que igreja, e confirmei-o pela tentativa de abordagem a uma transeunte, que logo os ignorou. Questionei-me o que faria aquele menino ali, se a convicção dele seria aquela, se não preferiria estar com outros amigos a andar de bicicleta ou a jogar playstation. Se lhe perguntasse agora, seguramente responderia que a missão dele era pregar aquela mensagem; mas seguramente daqui a uns anos, a resposta será diferente. Seria interessante conhecê-la então e perceber os efeitos desta influência neste, hoje, menino.
Embeveci-me com a chegada a casa de uma mãe acabada de ser. O carro parou, a mãe vinha à frente, e com dificuldade tentava sair, sozinha. Claro, tanto o pai como os avós se viraram para o ovo com o recém-chegado bebé, ignorando inconscientemente a necessidade de ajuda da pálida mãe ainda dorida, mas cujo sorriso se abriu ao espreitar o seu bebé como que a dizer-lhe: “bem-vindo a casa!”.
De resto, talvez o habitual num bairro típico de Lisboa: a velhota que não sai da janela toda a tarde, provavelmente a absorver todos estes e mais episódios da sua rua: outras velhotas a passar com sacos de compras não identificados (claro que vêm do Lidl, os sacos custam cêntimos e há que poupar, em consciência não o ambiente, mas a carteira); o carro do preto, de vidros abertos, a espalhar kizomba com o volume no máximo; o carro do branco com o terço verde fluorescente pendurado no retrovisor a obrigar ouvir acid em altos berros; o carro de um senhor doutor, alta gama, que entra na garagem de um tal condomínio quase de luxo, que parece não caber aqui, nesta rua popular.
Meia hora fora de mim, meia hora de tantas vidas.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Hoje sinto-me em baixo. Há coisas de mulheres que podem, hoje, justificar este estado de espírito. Numa tentativa de me elevar, fui dar um jeito ao meu aspecto exterior, mas em vão. Talvez aparentemente esteja melhor parecida, digamos, mas este sentir é igual. Já me tentei também dispersar em conversas com colegas, de temas diversos, mas o efeito é o mesmo. Volto sempre para o meu sítio, para o meu canto, meio enfiada. É um querer estar bem onde não estou; querer ir aonde não vou, qual canção do António Variações, toda ela define bem este meu estado de hoje, de inquietação e indefinição. Acho que tenho as energias em baixo, a precisar de carregar baterias. Anseio pela minha aula de yoga amanhã, é retemperadora, e o efeito só não é imediato porque a cama é o destino logo a seguir, mas no dia seguinte é perfeitamente visível a diferença.
Numa outra tentativa de me animar, comecei a escrever a crónica sobre o fim de semana motard, que é suposto ter alguma piada mas a coisa está-me a sair um pouco p’ró sério.
Enfim, entretanto, correram-me algumas coisas bem por aqui no trabalho e o jantarinho também se prevê em boa companhia. Amanhã estarei concerteza mais fresca!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Quando algo de diferente nos acontece, tendencialmente julgamos que pertencemos a uma comunidade rara. No entanto, é extraordinariamente interessante reparar que tantos navegam no mesmo mar dentro de barcos de uma mesma frota, diferenciados apenas pelo design exterior e identidade.
Estive, numa ocasião especial, com 8 Mulheres, em que, pelo menos, assumidamente, 6, passaram ou estão a passar por momentos de pressão sem tamanho. Ainda por cima, este estado é de tal forma manipulador que nos leva por caminhos escuros onde ao fundo não se vislumbra uma única luzinha. Pior ainda, torna cada vez maior este túnel ao ponto de se perder a lucidez e transformarmos uma guerra não nossa nas batalhas das nossas várias frentes: trabalho, família, amigos e nós, envolvem-se neste ambiente hostil e, ainda que tentemos proteger cada um destes exércitos, há um, forçosamente que perde. Perde sempre, porque fica um farrapo, porque não lhe dedicou o tempo e a atenção necessários para manter-se forte e apresentar-se nessas várias frentes realmente confiante. Em cada exército, somos os soldados e nessa guerra que não é nossa devemos lutar, sim, mas apenas quando estamos nesse campo. Baixando as armas, mesmo assumindo uma derrota, aquele exército chamado “nós” é o que tem que ser composto pelos soldados mais vigorosos, é neste que reside a aposta, para não se fragilizar perante os restantes. É este que tem que ganhar, sempre! O resto, será consequência. Não podemos deixar vencer esta estratégia, comum a todos os outros exércitos que é esta pressão a arrastar o “nós” para outro campo de batalha, para um nível bem mais difícil. Chegar aqui, à depressão, é não nos termos preparado convenientemente para combater o mais difícil dos guerreiros. Este é o inimigo a abater de vez, mas para não haver mortos e feridos, temos que defender o “nós” estrategicamente: não pelas armas, antes pela inteligência.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Orgulho que mata

Surpreendo-me quando assisto ao desgaste de relações por acção do orgulho. Já é tempo de travar este sentir que enterra cada vez mais fundo o ser humano até não mais se conseguir mostrar. Vê-se o fantasma, essa imagem ténue mas feia e assustadora que não se liberta daquele ser, mas que também teima em voltar p’ra ele.
O orgulho transfigura, transforma até à morte o ser belo, justo e inteligente. E faz perder a força e a vontade de continuar, de dar o melhor, de investir, de ceder e muito importante, senão vital, de olhar bem cá p’ra dentro e procurar a razão desta horrível opção de se ser orgulhoso, de não ser mais o próprio. Ser conscientemente inerte e concluir que não vale a pena é o maior sinal de fraqueza e ignorância.
Porque se continua a pensar que a humildade é humilhante? Que raio de interpretação é esta quando ser-se humilde apenas abre o coração para receber e para aceitar? É-se tão melhor quando se faz assim, quando se fala sobre a sua verdade. O que se deixa adivinhar pelos outros é baseado em atitudes e palavras que são falsas por causa desse malvado orgulho que camufla o ser-se verdadeiro.
Acredito na salvação pela partilha, pela verdade e sobretudo pela humildade. Irrita-me o facto de se desistir sem tentar o máximo, com a prévia noção do que se quer e simplesmente deixar tudo escorrer por entre os dedos, como se nada tivesse feito sentido. Irrita-me ainda mais o arrependimento porque este, este sim, é mais difícil de apagar.

Olhar


Olhar profundo.
Olhar p’ra dentro de mim.
Perturbador, invasor, incómodo.
Transparente, verdadeiro, doce.
Olhar reflector, espelho de mim.
Olhar interactivo. Pode ser um instrumento.
Que queres ver? Que procuras? Que questionas?

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

As outras mães dos nossos filhos


Sou a única Mãe dos meus filhos. A que os gerou e os pôs neste mundo.
Mas depois, cá fora, há outras mães: que os ajudam a crescer, que testemunham tantas primeiras vezes que fazem ou dizem algo.
A primeira vez que o João comeu iogurte, eu não estava, não fui eu que lho dei, eu não vi.
O número zero, eu não lho ensinei, e ele já o sabe, já o reconhece.
A primeira vez sem fralda, eu não testemunhei (neste caso, ainda bem!).
Há muita coisa que nos passa ao lado, porque há outras mães que estão lá por nós, quando não estamos. E que tipo de pessoas são estas, a quem confiamos tão preciosos tesouros? Faz-me confusão algumas Mães manterem intencionalmente uma certa distância das educadoras dos filhos. O que beneficiam elas desta postura? Ora então, não será mais natural a aproximação com estas pessoas, estimular e fortalecer esta relação, para efectivamente percebermos quem são, como vivem, como pensam, o que sentem? As crianças recebem tudo delas. Quantas vezes me aparece o João com expressões novas, nunca ditas ou ouvidas em casa, literalmente absorvidas dessas outras mães.
Pois é, a maternidade até pode ser um acto egoísta: queremos tomar as rédeas de tudo, mas tal não é viável e nem saudável. O Pai também é uma dessas outras mães, quando a Mãe deixa. E até posso parecer falsa, mas adoro ouvir o João chamar ou chorar pelo Pai quando ele não está, conforta-me perceber que ele gosta e precisa do Pai. E tenho a certeza que o Pai também gosta de sentir o simples gesto ou expressão do João a dizer-lhe isso mesmo.
Esta minha exposição tem a ver com a minha relação com as pessoas que cuidam do meu filho e o acarinham durante tanto tempo que não estou com ele. São preciosas, estas mães, valorizo-as pelo seu trabalho e empenho e, claro, pelo amor que incutem ao abraçar esta nobre causa de cuidar dos nossos filhos. Confiei nelas e gostei delas. Confio agora nestas e gosto muito delas. O meu pequeno índio também.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Mimo











Só me apercebo de como preciso tanto de mimo, quando efectivamente o recebo. Provavelmente, também, porque e quando há muito tempo não o recebo. Ou será que tenho simplesmente andado distraída? Julgo que não, porque, ora vejamos:
Ontem senti algo verdadeiramente emocionante, quando vi os meus 2 filhos entrarem-me pelo quarto dentro de tabuleiro com pequeno almoço na mão, da Maria, e um ramo de alecrim em flor do nosso jardim, que o Joãozinho me estendeu e cujo fresco odor perfumou o ambiente. Foi o melhor acordar de sempre!
Ontem também recebi um telefonema inesperado apenas para me dizerem “obrigado!” Fiquei surpresa por ter sido tão intencional e sentido e sobretudo por ter sido quem foi.
Também alguém me perguntou “como é que estava” de uma forma excepcionalmente interessada, não banal.
E já hoje me perguntaram se o meu astral estava em cima… se continuava a contagiar sorrisos à minha volta.
Estou a receber, a receber muito, a receber muito mimo. Sim, estou permeável, há alturas assim, ganhamos muita energia boa para depois no-la virem buscar. Por vezes é bom, partilhar e ter mimo de volta, outras vezes…. cuidado, ou fico sem nenhuma p’ra mim!!!


sexta-feira, 9 de outubro de 2009

"Minha querida filha,


Já não és do tempo em que se comunicava por carta com as pessoas que estavam longe. Hoje é o tempo da internet que aproxima maravilhosamente as pessoas em tempo real. Mas não podemos esquecer que os correios implementaram um serviço completamente inovador noutros tempos.
Lembro-me bem da minha avó Lídia me ditar cartas para enviar ao tio Anívele no Canadá e à tia Ana em França. Era delicioso ouvi-la: "Espero que esta carta te encontre bem de saúde que eu cá vou andando na graça de Deus...".
Lembro-me também de escrever às amigas que todos os anos ia fazendo nos meses de Verão, na praia da Nazaré.
Já p'ra não falar na emoção de receber correspondência: os postais a desejar Parabéns quando fazia anos e os intermináveis postais de Natal, que eu coleccionava.
Hoje é o Dia Mundial dos Correios, achei que o devia comemorar assim: escrevendo-te, à moda antiga, uma carta, que te vou enviar daqui a pouco, quando for aos correios comprar o selo. Espero que me contes as emoções que sentires quando a receberes.

Um grande beijinho da mãe, que muito te ama."

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

SSSSSSSSSSSSsssssshhhhhhhh.....

Tenho tanta sede e tantas vezes de silêncio.
Apercebo-me que, cada vez mais pessoas à minha volta, precisam também de se aquietarem, de se afastarem deste ruído que teima em envolver-nos. O mais curioso é que andamos inconscientes disto demasiado tempo, e até muito deste barulho somos nós a gerá-lo.
Acordamos então ao som da dor e do cansaço.
Esgotamo-nos.
Desgastamo-nos.
Cada vez mais me convenço que o envolvimento em nós mesmos, nem que por breves instantes, é um processo reparador. Ouvir-nos atentamente torna-nos mais lúcidos e prepara-nos para a algazarra que enfrentamos. Protege-nos qual escudo de ataques de terceiros. Impede-nos da distracção que tantas vezes procuramos, nessa necessidade constante de arranjar desculpas esfarrapadas para fugirmos de nós.
Abrigo-me em mim.
Escuto o meu silêncio.
Encontro o meu Eu.
Estou a ouvi-la a pedir socorro… ssssshhhhh… escute-se e sacie-se…

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

5 minutos...

Quantidade de tempo precioso!
Em 5 minutos tomo o pequeno almoço…
Em 5 minutos tomo banho…
Em 5 minutos me visto…
Em 5 minutos faço tantas outras coisas…

Que falta me fizeram hoje 5 minutos:
Para sair a horas de casa…
Para evitar o trânsito infernal da manhã…
Para a Maria não chegar atrasada…
Para não sentir tensão…
Para não sentir culpa…
Para não chorar durante 5 minutos…
Apenas e só 5 minutos!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Oooommmmm

O meu corpo não está saudável. A minha mente também não está no seu melhor.
Ontem comprovei-o. Aliás, a minha primeira aula de Yoga mo provou. Toda eu rangia, cada movimento em que o meu corpo tentava esticar até ao limite, percebi o quão aquém fica este limite. De uma forma expectante, percebi também o quão além pode ir. A forma como tomamos consciência do nosso corpo físico, produz um efeito de abstracção de toda a realidade. Em alguns momentos, consegui sentir este alheamento. Em outros, porém, a minha mente prendia-se na incapacidade de me contorcer. Interessante é também o enfoque na respiração: quantas vezes por dia pensamos neste mecanismo de inspiração/expiração que nos mantém vivos? O efeito aqui, é de relaxamento puro, porque de certa forma, forçamos o bom funcionamento deste processo e, em consequência, ganhamos um corpo mais oxigenado, logo, mais descontraído. Curioso ainda algumas posições contrariarem a normal postura do corpo com o objectivo de proporcionar uma maior oxigenação celular a pontos que naturalmente, pela habitual postura vertical, não são tão abundantemente irrigadas. A permanência em detrimento da repetição, nos exercícios, confere a cada postura a possibilidade de insistência na busca de bem-estar.
Em suma, o objectivo máximo do Yoga é sentir prazer na execução de cada Asana com um grande sorriso. Então, ligam-se o corpo e a mente em harmonia e equilíbrio. Estou longe, mas vou lá chegar e permanecer.

Oooommmmm

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Começos...


... o primeiro é especialmente para ti.
E como não ser ?
Se em todos os momentos em que começo tu estás lá, se és tantas vezes a primeira a saber, se tantas das minhas escolhas têm por base o teu silêncio em ti. Iniciar este blogue é mais um reflexo de ti em mim.
Celebremos e brindemos (com vinho tinto, porque tu gostas!)